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A crítica à roupa da vereadora Camila Valadão

Bem no dia internacional da mulher, o vereador Gilvan da Federal (que é bolsonarista) fez uma crítica à roupa da vereadora Camila Valadão (PSOL), e, óbvio, que eu não ia deixar de falar sobre isso aqui.

Pra quem não sabe, eu sou Psicóloga e trabalhei 12 anos em recursos humanos até 2014, quando fiz a formação em consultoria de estilo, e isso me deu uma bagagem bem bacana sobre dress code.

A crítica à roupa da vereadora Camila Valadão aconteceu quando o parlamentar da Câmara de Vitória afirmou que a blusa assimétrica vermelha, que deixava um ombro e um braço à mostra não estava adequada, apesar de não haver proibição no regimento interno. E é sobre isso que eu vou falar.

Sobre o grau de formalidade

É muito comum que as empresas (especialmente as mais formais) tenham um manual ou regimento interno definindo o que os funcionários podem usar ou não, e é importante dizer que, apesar de o machismo estrutural interferir bastante nessas regras, quando uma pessoa aceita um cargo numa instituição que usa uniforme ou tem um dress code definido, ela precisa respeitá-lo.

Mas, não era o caso aqui, já que a Câmara de Vitória não fala sobre itens específicos de vestimenta no seu regimento interno, e sim que as mulheres devem estar com roupas formais nas sessões. Isso deixa brecha para que cada pessoa vista-se de acordo com o seu estilo e bom senso, e a gente sabe que estilo e bom senso podem ter definições bem diferentes para cada pessoa.

Na consultoria de estilo acontece de uma cliente querer parecer mais ousada, criativa, feminina ou moderna do que os seus colegas de trabalho, e me contratarem exatamente pra entender qual é o limite entre a expressão do estilo pessoal e o descumprimento das regras, como com essa cliente aqui do Rio, que eu sugeri outras opções de terceira peça e cores neutras coloridas, pra ela se sentir mais colorida, mesmo num ambiente semi-formal.

Machismo na política

Em 2019, eu fiz um texto aqui no blog falando sobre a crítica ao decote da deputada Ana Paula da Silva na sua posse, quando também aconteceu outro caso de machismo: o também deputado Amauri Ribeiro ficou com a sua mulher, Cristhiane, sentada no seu colo durante a cerimônia de posse enquanto usava chapéu (que não é permitido pelo regimento da Assembleia Legislativa), e nada foi falado a respeito disso.

Na época, apesar de eu entender essa crítica ao decote da deputada Ana Paula da Silva como um ato de machismo, eu também falei que ela não estava respeitando o dress code, porque mesmo sendo uma cerimônia de posse, em horário de trabalho e a trabalho, o dress code precisa ser respeitado – como deve ser nas festas de final de ano das empresas, por exemplo.

Já no caso da vereadora Camila Valadão, além de não ter uma regra definida (permitindo que ela usasse o que achasse adequado), a blusa só mostra o braço dela!

Óbvio que o vereador Gilvan da Federal foi além do dress code, dizendo que “quem quer respeito, se dá o respeito”, num argumento clássico do machismo. E foi além, criticando o uso do adesivo escrito “Fora Bolsonaro, pela vida das mulheres” na sua blusa, dizendo que também era algo proibido – enquanto usava uma máscara com a cara do presidente!!! Hipocrisia que fala, né?

Gilvan também se incomodou pelo fato de a parlamentar usar a expressão “todes” (gênero neutro) nos seus cumprimentos durante a abertura da sessão: “A questão de ‘todes’, já que vocês dizem que são da inclusão…eu não me sinto incluído nesse bom dia, vou deixar bem claro. Vou deixar bem claro para vocês que esse ‘todes’ não existe e é um desrespeito com esse parlamento”, afirmou o vereador.

Muitos vereadores e outras vereadoras foram em defesa da colega, deixando claro que a crítica à roupa da vereadora Camila Valadão era uma opinião pessoal do vereador Gilvan da Federal, e não um consenso.

Mulheres fazem ato de apoio à vereadora Camila Valadão na Câmara de Vitória

No dia 10 de março cerca de 30 mulheres realizaram um ato em frente à Câmara de Vitória em solidariedade à vereadora Camila Valadão. As manifestantes compareceram à Casa de Leis com o ombro à mostra e fizeram uma saudação para Camila com palavras de ordem feministas.

A vereadora disse que vai definir com seus assessores jurídicos se ingressará com uma queixa contra o vereador que questionou publicamente o uso de seus trajes.

Quem é a vereadora Camila Valadão?

Camila Valadão é assistente social e doutoranda em Política Social pela UFES, e cumpre o seu primeiro mandato. Ela foi a segunda vereadora mais votada entre os 15 vereadores eleitos para a atual legislatura no Espírito Santo, e já foi candidata ao Governo do Estado do Espírito Santo em 2014 com 21.044 votos.

Em seu site, Camila Valadão diz que é feminista, negra, mãe e militante do PSOL, e que desde o início de minha militância tem se dedicado à luta em defesa das mulheres, da negritude, da juventude e dos direitos humanos.

Camila também já apareceu em vários eventos com camisetas citando a Marielle Franco. Nesse resumo, vemos que tem motivos de sobra para sofrer ataques de bolsonaristas, né?

E sempre que eu falo de política por aqui e lá no meu instagram eu gosto de deixar claro que tudo é política e que eu sempre vou me posicionar em defesa das mulheres e das minorias.

Nesse texto aqui eu falo um pouco mais sobre a relação da moda com a política, pra você entender melhor e aprofundar a leitura.

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Priscila Citera

Apaixonada por pessoas e por moda, resolvi unir a Psicologia e 12 anos de experiência em recursos humanos com a formação em Consultoria de Estilo pela Oficina de Estilo, e desde 2014 ajudo mulheres e homens desse mundão todo a transformarem personalidade em looks e roupas em representação da personalidade, sem que eles precisem gastar muito!