Vestindo Autoestima

A moda e o machismo estrutural

Março é o mês da mulher, e apesar de ser sempre muito difícil ser mulher no Brasil, durante a quarentena está ainda pior.

As mulheres são as mais afetadas profissionalmente, as mais sobrecarregadas, as que mais cuidam dos outros e precisam de cuidado. Mas, como eu sou consultora de estilo, eu queria trazer essa pauta para a minha área de trabalho, e por isso resolvi falar um pouco da relação entre a moda e o machismo estrutural.

O que é machismo estrutural?

Antes de qualquer coisa, é preciso começar falando sobre viver numa sociedade machista e explicar o que é o machismo estrutural – mesmo que de forma “superficial”, por que é uma introdução desse assunto que é bem complexo, tá?

O machismo causa diversos problemas, como:

O que é o machismo?

Podemos definir o machismo como um preconceito, expressado por opiniões (como acreditar que a mulher não pode ou não deve se portar como um homem e ter os mesmos direitos, ou julgar a mulher como inferior ao homem em aspectos físicos, intelectuais e sociais) e atitudes opostas à IGUALDADE DE DIREITOS ENTRE HOMEM E MULHER, favorecendo o homem em detrimento à mulher.

O machismo estrutural é cultural e inerente a diversos aspectos de uma sociedade, tendo sido normalizado por muitas décadas, de geração pra geração, mantendo essa roda girando sem os devidos questionamentos.

Ao viver em sociedade, adquirimos, por meio da cultura, da educação que recebemos, e do convívio com os outros, uma série de informações que já estão consolidadas socialmente. Essas informações nos dizem como classificar e hierarquizar tudo (incluindo as pessoas), e é assim que a gente enxerga quais são os comportamentos de “homem” e de “mulher”.

É por causa do machismo estrutural que meninas vestem rosa desde o seu nascimento e meninos usam azul, e que bonecas são brinquedos de meninas e carrinhos e coisas de montar são brinquedos de meninos. Eu falei sobre as mães serem as primeiras consultoras de estilo das crianças nesse texto aqui, e vale muito a pena ler – mesmo que você não seja mãe!

E esse conceito (e preconceito) leva a gente a perpetuar esses comportamentos, alimentando ainda mais o machismo estrutural. Frida Kahlo, por exemplo (e outras mulheres que tiveram papéis importantes na história), tiveram que se “masculinizar” para ganhar notoriedade e respeito em suas obras.

Frida Kahlo (ao centro) vestida “como um homem”

Nesse ponto, precisamos falar sobre a questão de gênero (também de forma bem superficial, só pra contextualizar). Segundo o Oxford English Dictionary, “gênero é o estado de ser masculino ou feminino, conforme expressado por diferenças sociais e culturais, em vez de biológicas”. Isso significa, então, que cada sociedade “define” o que é feminino e masculino.

Felizmente essas definições podem mudar com o tempo, e o próprio exemplo do azul e rosa é um deles: Até o começo do século XX, rosa era uma cor de menino e o azul era associado às meninas.

Então, isso nos dá esperanças de desconstruir alguns preconceitos e mudar a forma como a gente vê e lida com a imagem que a gente tem do masculino e feminino. E foi por isso que eu decidi fazer esse post.

A moda e o machismo estrutural: O que a gente pode fazer?

É óbvio que o machismo estrutural inclui vários comportamentos, mas como a minha área de atuação é a moda, as minhas sugestões são referentes à forma de se vestir e interpretar a forma de as outras pessoas se vestirem – especialmente as crianças, que é quando a personalidade e a autoestima são formadas.

No texto que eu fiz em 2018 sobre a influência da mãe no nosso estilo pessoal (nesse link aqui), eu falo sobre os conceitos de bonito e feio, certo e errado, coisa de menina e coisa de menino, que vão ajudar a formar o estilo pessoal dessa criança, além, é óbvio, de sua personalidade, definindo também se essa criança vai ser machista ou não.

É muito comum, na consultoria de estilo, eu atender clientes que têm algum tipo de preconceito com roupas mais sensuais, por exemplo, porque a maioria de nós, mulheres, fomos criadas com a ideia de que ser sexy é errado, enquanto os meninos são criados para achar que mulheres que se vestem dessa forma “não prestam” ou “não servem pra casar”.

Os meninos também são criados com conceitos muito machistas, que os impedem de mostrar emoções, e é comum que eles vejam as roupas rosas ou estampas florais, por exemplo, como falta de masculinidade e até mesmo um sinal de que a sua orientação sexual seria a homossexualidade.

Nesse vídeo super fofo, uma garotinha fica revoltada com as empresas e com o marketing que fazem em cima das coisas cor de rosa. Ela diz que coisas cor de rosa não devem ser exclusividade das meninas e que as meninas não querem só bonecas princesas e nem os meninos querem só Super Heróis.

Esse vídeo é importante também pra lembrar que o machismo estrutural também oprime e prejudica os homens, e que é criando os meninos de forma diferente que a gente vai conseguir ter uma sociedade menos machista.

Nesse texto de 2019 eu falei um pouco sobre isso, baseado na fala da ministra Damares de que “meninas vestem rosa e meninos vestem azul”, e ler as informações desse texto aqui complementam essa leitura.

Marcas de roupa infantil sem gênero

Uma das formas de combater o machismo estrutural na moda é ensinar as crianças, desde cedo, que elas podem usar o que elas quiserem, independente do sexo delas.

Quando comecei a pensar nesse texto sobre moda e o machismo estrutural, já comecei a pesquisar onde comprar roupa infantil sem gênero para as minhas clientes grávidas ou que têm filhos (ou para elas indicarem pra uma amiga que é mãe). Segue a listinha de marcas que têm boas opções de peças com estampas e cores mais neutras / sem gênero:

Sair da versão mobile