No começo desse mês, a cantora Billie Eilish, que tem 19 anos, posou para a capa da revista Vogue e chamou a atenção pela mudança na sua imagem, e vou falar nesse texto do porque essa mudança na imagem da Billie Eilish é motivo de reflexão.
Billie Eilish é uma cantora e compositora estadunidense que ganhou popularidade em 2016, quando lançou seu single de estreia “Ocean Eyes” no SoundCloud, e desde então, chama a atenção tanto pelas suas produções musicais quanto pelo seu estilo, que foge dos clássicos padrões de objetificação do corpo feminino (especialmente o adolescente pop) pelo show business.
Justamente por conta disso a mudança na imagem da Billie Eilish virou assunto no mundo todo, e tema do texto de hoje.
O estilo de Billie Eilish
“Se eu me vestir mais. Se eu me vestir menos. Quem decide o que isso me torna? O que isso significa? Meu valor é baseado apenas na sua percepção? Ou sua opinião de mim não é minha responsabilidade?”.
A declaração faz parte de um curta que é exibido durante os shows de sua turnê de estreia ‘Where Do We Go? World Tour’, para criticar as imposições de modelos de beleza às mulheres. De fato, a voz de Eilish se faz marcante não só em suas composições musicais, mas nas de seus visuais também.
O visual street genderless (urbano e sem gênero) dos seus looks é elaborado pela própria cantora com a ajuda da estilista Samantha Burkhart, conhecida por não possuir traços de design próprios, mas sim por criar composições que ressaltam exatamente a autenticidade da personalidade de cada artista, como a Katy Perry e Christina Aguilera.
A escolha de suas roupas também conversa de forma impecável com uma de suas principais influências musicais: o hip-hop: Peças oversized (largas ou maiores), correntes, moletom, tênis e sobreposições fazem referência à moda utilizada entre os rappers durante os anos 1980 e 1990.
Tinha mais a ver com comunicar rebeldia e personalidade que beleza e feminilidade, dentro dos padrões que conhecemos.
No ano passado, ela ganhou 4 Grammys (dos 5 que ela tinha sido indicada), e esse ano eu cheguei postar o look que ela usou no Grammy 2021 aqui nesse post, falando sobre os looks dos famosos no tapete vermelho combinando com a máscara.
A Billie Eilish também é uma das maiores adeptas da logomania, que também é uma tendência no street style – usando inclusive nas unhas – completamente diferente da imagem da Billie Eilish que vimos agora, e vou falar a seguir.
Maquiagem e cabelo da Billie Eilish
Diferente do resto de sua aparência, as suas maquiagens são discretas – seguindo a tendência de peles naturais, leves e iluminadas, além de só usar produtos livres de de componentes oriundos da exploração animal, já que ela é vegana.
O seu cabelo já foi latinado, cinza, branco, roxo, azul, lilás, azul escuro, azul claro, preto azulado, preto e marrom (uma peruca para o clipe de ‘Xanny’), além do icônico preto com a raiz verde neon, que aparece nas fotos acima.
Já foram tantas transformações que eu só descobri que a cor natural de seus cabelos é o loiro – o que contribui para que a mudança recorrente de tons seja bem mais fácil.
Da sua assinatura de estilo conhecida, apenas a maquiagem continua a mesma depois dessa mudança de aparência. No ensaio da Vogue, a maquiagem era bem neutra e sem exageros.
A relação da Billie Eilish com a sua aparência
A artista afirmou algumas vezes usar esse tipo de roupa por sentir-se constrangida com a sua aparência, e tinha uma percepção de que, como adolescente, a cantora não desejava ser hiperssexualizada. Ela também dizia que gostaria de ser conhecida pela sua arte e não pela sua aparência, e a sua música era coerente com essa mensagem.
Essa imagem também era coerente com a adolescência, já que nesse período, muitas meninas estão inseguras com o seu corpo e querem de esconder – além de a rebeldia também ser comum nessa fase.
Porém, após atingir a maioridade, a sua imagem rapidamente fora submetida à uma “transição” sexualizada, aparecendo na Vogue em poses sensuais, usando lingerie e as formas do seu corpo, que ficaram escondidas durante todos esses anos.
Na entrevista, que eu compartilhei lá no instagram, ela disse que “se sente mais preparada pra também usar o seu corpo na sua imagem e mostrar que é possível usar a sensualidade para expressar quem ela é”. Eu falei sobre o medo de parecer sexy nesse texto aqui – um medo comum a mulheres de todas as idades!
A mudança na imagem da Billie Eilish é um fenômeno do machismo estrutural
Esse fenômeno ocorre constantemente na Indústria Cultural, como nos casos de Natalie Portman e Millie Bobby Brown, que recebiam mensagens de abusadores em potencial e foram sexualizadas ainda na adolescência pelas mídias.
A sexualização de garotas jovens possui inúmeras reverberações na classe feminina. Afinal, garotas constituem o maior grupo de indivíduos com transtornos mentais (de ordem alimentar), o maior grupo na busca por intervenções cirúrgicas de ordem estética e, consequentemente, o maior grupo de pessoas exploradas na indústria pornográfica e na prostituição.
Na capa da Vogue Britânica desse mês, vemos a mudança da imagem da Billie Eilish junto com a manchete que diz que “é tudo sobre se sentir bem”, e a gente só vai saber o quanto isso tem de verdade pra ela no futuro – e se isso tem a ver com ela, individualmente, ou com as mudanças que a música também pode reforçar!
Eu já falei sobre a relação da moda com o machismo estrutural nesse texto aqui, e se você quiser ler mais sobre o assunto, e entender um pouco mais sobre o que eu falei da mudança na imagem da Billie Eilish é só clicar no link.