Vestindo Autoestima

A Shein é pior do que a gente pensava

Xiaoyi, a Clothing Company in Nancun that supplies Shein.,Image: 667090823, License: Rights-managed, Restrictions: , Model Release: no, Credit line: Qilai Shen/Panos Pictures / Panos Pictures / ContactoPhoto

Eu sei que a Shein ainda é uma opção para quem não pode comprar roupas de marcas autorais e para quem veste tamanhos plus size, já que o mercado ainda não cobre esses “buracos”, mas o meu papel como consultora de estilo é trazer as informações para quem segue o meu trabalho por aqui e lá no instagram, e o texto de hoje é pra mostrar que a Shein é pior do que a gente pensava – e vou explicar por que.

O que eu vou falar aqui foi revelado pela Channel 4 (emissora britânica), que enviou um funcionário para 2 fábricas da Shein e filmou coisas que mostram que a Shein é pior do que a gente pensava para os seus funcionários, e por isso, para a indústria da moda em geral.

A Shein é pior do que a gente pensava

Nesse texto aqui eu já falei o que eu acho sobre as comprinhas na Shein que as influencers mostram todos os dias nas redes sociais, incentivando o consumo e despertando o desejo em milhares de pessoas que não precisam de tantas roupas, e também sei que a gigante chinesa do fast fashion é uma forma de mulheres que usam tamanho plus size terem acesso às tendências que não chegam nas marcas locais (ou chegam com preços muito altos), mas o que a Channel 4 divulgou é terrivelmente bizarro, e a gente não pode se manter conivente com isso.

De acordo com as filmagens da Channel 4, os funcionários costuram por horas seguidas e ganham aproximadamente R$ 0,20 por peça produzida (US$0.04), têm seu primeiro salário retido na empresa e lavam seus cabelos na pia durante o horário de almoço (porque não tinham mais tempo livre em casa), além de só ter direito a uma folga mensal.

Dentro de uma dessas fábricas foram encontrados funcionários que recebiam um salário base de 4000 yuan por mês (que não chega a US$556) para produzir 500 peças de roupa POR DIA.

A filmagem aconteceu em Panyu, em Guangzhou, na China, onde existem milhares de confecções de moda terceirizadas e a própria sede da Shein, como era no edifício Rana Plaza em Bangladesh, que desmoronou matando mais de 1 mil pessoas também na indústria da moda. Esse acidente ficou famoso e virou o documentário “The true cost”, que fala sobre o real custo das roupas, e que ainda acontece. Eu falo mais sobre esse acidente aqui, que também foi o motivo da criação da Fashion Revolution Day.

A reportagem também mostrou que os funcionários recebem uma punição de 2/3 (dois terços!!!) do seu salário diário sempre que cometerem erro em UMA peça de vestuário.

A Shein tem sido criticada por fazer quase tudo o que não se pode fazer numa empresa, incluindo ter más condições de trabalho, altos níveis de produtos químicos tóxicos nas peças que produz, cópia de modelos de designers e uso incorreto de dados de clientes.

Consegue entender como eles vendem roupas tão baratas? Consegue ver o custo real dessas peças e que essas pessoas estão pagando pelo consumismo desenfreado do mundo?

O que a Shein falou sobre o documentário da Channel 4?

Assim que a Shein foi informada sobre o documentário que mostra que as condições de trabalho, a carga horária e os salários dos funcionários dessas fábricas violam as leis trabalhistas da China, eles disseram que iam resolver internamente e desfazer a parceria com as fábricas que não cumprem com a legislação.

Vale dizer que segundo a legislação da China, a carga horária desses funcionários deveria ser de 40h semanais (como no Brasil) ao invés de 18h por dia e que as horas extras não devem passar de 36h semanais (o que daria, no máximo, 12h por dia – já contando com as horas extras). Além disso, a legislação garante 1 folga semanal, e não uma folga mensal.

A gente se revolta e se pergunta o que a gente pode fazer nesses casos, e a gente pode fazer um monte de coisas, desde comprar em marcas que cumprem a legislação até votar certo. Nesse texto aqui, sobre moda e política, eu explico a importância de votar em políticos que vão regulamentar e fiscalizar as empresas pra evitar o trabalho escravo. Spoiler: Lula assinou a carta se comprometendo a acabar com o trabalho escravo no Brasil e o Bolsonaro não!

Durante as gravações do documentário, batizado de Untold: Inside the Shein Machine (Não cotado: por dentro da máquina Shein, em tradução livre), alguns costureiros relataram que são imigrantes – e é por casa disso tudo que um monte de gente está repostando sobre esse documentário e falando que a Shein é pior do que a gente pensava!

A empresa afirmou ainda que “leva todos os assuntos da cadeia de suprimentos a sério”. “Ao saber do documentário em vídeo, solicitamos imediatamente uma cópia e, quando recebermos e analisarmos o relatório, iniciaremos uma investigação”, complementou a Shein ao Business Insider.

Em abril deste ano, a Shein foi avaliada em mais de 100 mil milhões de euros, um valor superior à da Zara e da H&M juntas.

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