Eu vivo falando aqui e lá no instagram que a gente precisa conhecer as marcas que consumimos e apoiamos, e além de deixar de comprar de marcas com histórico de uso de trabalho escravo e casos de abusos em geral (trabalhistas ou humanos, como racismo, homofobia e gordofobia, como a Riachuelo), eu passei a boicotar empresas que apoiam o governo do Bolsonaro, como a Adidas – que é uma das minhas marcas favoritas.
Adidas: Da paixão ao boicote
Eu sempre gostei das peças da Adidas, e em 2018, quando comecei a malhar, eu fiz um “enxoval” de roupa de ginástica só com peças da marca, dentro da minha cartela de coloração pessoal.
Usar roupas bonitas, na minha cartela e que expressassem o meu estilo era o estímulo que eu precisava para começar a ir pra academia pela primeira vez aos 37 anos, por causa de problemas na coluna.
Eu que nunca fui fã de fazer propaganda gratuita de marca nenhuma e de usar a logo estampada nas roupas, logo vi meu guarda-roupas lotado de peças com as famosas três listras, nas roupas pra usar fora da academia também!
Essas são algumas fotos que eu tenho registradas no instagram, mas eu tenho várias outras peças – incluindo um casaco que ainda nem viu a rua, por causa da quarentena, e que eu vou continuar usando, mas o boicote inclui evitar fotografar, e óbvio, não comprar mais nada da marca.
Moda também é sobre política
Eu sempre me posiciono lá no instagram, e já falei nesse texto aqui sobre a relação da moda com a política, e por isso, mesmo gostando muito da marca, eu acho que seria hipócrita da minha parte continuar financiando algo que eu sou contra.
Para quem não sabe do que estou falando, a CEO (presidente) da Adidas no Brasil, Flávia Bittencourt, foi a um almoço em São Paulo com o presidente Bolsonaro (evento Ciclo Brasil de Ideias) e outras 50 empresárias no dia 30 de março, com direito a foto de todo mundo aglomerando sem máscara!
A foto do evento, que aconteceu na semana em que o Brasil atingiu o número de 400 mil mortos por Covid-19 contou com a presença de empresárias como a Cristiane Lacerda (conselheira dos hipermercados Carrefour), Rachel Maia (conselheira administrativa do Grupo Soma & CVC) e Monica Monteiro (diretora executiva da Rede Bandeirantes de televisão), repercutiu negativamente nas redes sociais, e fez a maioria das empresárias presentes no evento terem se posicionado dizendo que “o evento não era sinal de apoio ao governo”.
O pronunciamento da Adidas sobre o caso:
Após a repercussão do caso, a própria Adidas, que é uma multinacional alemã, se pronunciou sobre o caso. Veja a nota da empresa:
“A adidas esclarece que a participação de Flávia Bittencourt no almoço que contou com a presença de membros do Governo Federal teve como objetivo participar de discussões relevantes para a sociedade. Na pauta, dentre os principais assuntos propostos figuraram a equidade de gênero e a maior participação das mulheres nos setores públicos e privados, temas que há muito fazem parte das causas defendidas pela executiva. Reforçamos ainda que a presença da executiva no evento não representa qualquer posicionamento político da companhia, que possui uma visão apartidária em todos os países em que atua.”
A história da Adidas
Esse posicionamento faz parte do histórico da marca, que foi fundada por dois irmãos, Adolf e Rudolf Dassler, que foram filiados ao partido Partido Nacional Socialista da Alemanha, conhecido na História pelo acrônimo “Nazista”, o que fez a empresa fazer grandes esforços para apagar essa mancha sinistra de sua trajetória.
Adi, como Adolf era apelidado, desenvolvia os sapatos, enquanto Rudi (como era chamado Rudolf), cuidava das vendas na “Fábrica de sapatos dos irmãos Dassler”, que fabricava sapatos esportivos desde 1924, mas ficou famosa durante as Olimpíadas de Berlim, em 1936, durante o governo de Hitler.
Adi Dassler, mesmo filiado ao partido Nazista, consegue patrocinar o atleta negro norte-americano Jesse Owens, que foi vencedor de quatro medalhas de ouro usando um tênis da marca, num episódio que entrou para a História como uma humilhação de Adolf Hitler e de sua teoria da supremacia racial dos arianos.
Apesar desse episódio e de muito esforço de marketing, a empresa seguiu sendo lembrada por muito tempo como uma marca bem relacionada com um dos maiores genocidas que a humanidade já conheceu – e agora a história se repete, com o almoço da sua CEO do Brasil com o presidente mais criticado no mundo todo diante do seu comportamento negacionista mediante o Covid-19, o que está gerando milhares de mortes todos os dias.
Em 1943 apenas Rudolf é convocado para a segunda guerra mundial, e a empresa passa a fabricar artefatos para o exército alemão.
Em 1946 a empresa volta a fabricar sapatos, mas a relação dos dois irmãos estava muito desgastada por conta desses acontecimentos durante a guerra (Adi tinha muitos conhecimentos políticos e Rudi achava que ele tinha sido chamado para a Guerra por influência do irmão), e em 1948 eles decidiram se separar.
Foi então que Adi criou a Adidas (que é a junção do seu apelido com o seu sobrenome Adi Dassler) e Rudi criou uma marca concorrente, e deu o nome de Puma.
Adidas x Puma
A cidade de Herzogenaurach é cortada por um rio e as empresas Puma e Adidas ficam uma em cada lado do rio. Na época, a rivalidade dos irmãos dividiu também a cidade e os moradores: Uma loja venderia os sapatos somente de uma das marcas, os integrantes de uma mesma família trabalhariam somente para uma das empresas. A cidade chegou a ser conhecida como “a cidade do olhar para baixo”, uma vez que primeiro olharia para os pés, para ver que marca de sapato se usava antes de iniciar uma conversa.
Diz-se que os irmãos Adi e Rudi permaneceram até seus últimos dias sem trocar uma palavra um com o outro e quando morreram nos anos 70 foram enterrados no mesmo cemitério, mas em lados opostos.
Você já sabia dessa história? Eu só soube que a Adidas e a Puma era de dois irmãos quando fui fazer esse artigo.