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Porque não comprar a coleção da Moschino para a Riachuelo

Eu não costumo indicar a Riachuelo na etapa de compras para as minhas clientes porque além de a qualidade das peças não ser boa, o dono da marca é um bolsominion envolvido em vários casos de machismo, racismo e homofobia, e a coleção da Moschino para a Riachuelo é tão ruim que eu resolvi falar sobre ela aqui e dizer porque não comprar nada dessa coleção.

As collabs da Riachuelo

A Riachuelo costuma fazer coleções em collab com grandes marcas há muito tempo, como a Daslu, Triya, Osklen, Cris Barros, Martha Medeiros e Lorenzo Merlino, além das coleções com alguns estilistas estilistas internacionais, como Donatella Versace (2014) e Karl Lagerfeld (2016).

Recentemente, fez collab com a marca de roupas masculinas À La Garçonne e com a marca de underwear holandesa Love Stories.

Como funcionam as collabs com a Riachuelo?

Em entrevista para o portal Metrópoles, a Marcella Kanner, head de comunicação corporativa e marca na Lojas Riachuelo explicou que a ideia das collabs é “ter peças com o DNA do estilista e da marca, com uma qualidade muito boa, a um preço acessível”. Mas, eu vou mostrar a seguir que não é bem assim.

Marcella também contou que a produção das peças fica com sob a responsabilidade da Riachuelo, mas o processo criativo é 100% do estilista parceiro, e que no caso da marca italiana Moschino, foi o próprio Jeremy Scott (estilista da marca) e equipe que ficaram responsáveis pelo desenvolvimento dos produtos.

A coleção da Moschino para a Riachuelo

A coleção da Moschino (uma das grifes de luxo mais ousadas e irreverentes do universo fashion) para a Riachuelo foi lançada nessa terça-feira (19/10) e já está com a maioria das peças esgotadas. Mas, ainda assim eu resolvi fazer esse texto sobre porque você não comprar a coleção da Moschino para a Riachuelo.

A coleção tem camisetas, moletons, tricôs vestidos, biquínis, jaquetas e calças, entre outras peças para mulheres e homens. Outro destaque da coleção é a parceria com a Warner Bros., representada nas peças por personagens como Patolino, Piu Piu e Pernalonga. A estrela da campanha é a cantora Luisa Sonza, mas outros influenciadores também participam da campanha, como a Cleo, Hugo Gloss, Pequena Lo, Rafa Kalimann e Fernanda Souza – o que também gerou um burburinho nas redes sociais, por terem aceitado trabalhar para a marca do Flávio Rocha, que é apoiador do Bolsonaro e sempre esteve envolvido em escândalos trabalhistas e preconceituosos, como vou falar a seguir.

Para o lançamento da coleção, a flagship da marca, que fica na rua Oscar Freire, em São Paulo, foi toda repaginada, com uma das estampas da coleção na sua fachada.

A composição da loja ficou assim: o térreo terá como tema o tradicional Bubble Gum. Já o primeiro andar contará com a inspiração de alguns personagens da Warner Bros, como Pernalonga, Patolino e Piu-Piu.

No último andar da loja, os elementos principais serão as frutas, que foram desenhadas e criadas especialmente por Jeremy Scott para toda a coleção.

Coleção recebe críticas às peças e aos preços nas redes sociais

Apesar de todo esse barulho, a coleção da Moschino para a Riachuelo recebeu muitas críticas nas redes sociais, seja pelo estilo das peças, pela qualidade e pelo preço.

No instagram da minha professora de tecido, Ana Scalea, ela analisou as peças e fez um post super completo:

Em resumo, a crítica foi o fato de a maioria das peças serem de poliéster, que é um tecido super quente para uma coleção de primavera / verão, e que não justifica o preço alto.

A coleção também tem uma jaqueta de poliuretano de R$ 600 e um caderno de R$ 50! E apesar disso, a coleção já está quase toda esgotada – o que mostra que o Brasileiro em geral compra pela marca e pelo status, e não pela qualidade das peças.

Esses dias eu falei sobre o conceito de dopamine dressing, e falei sobre a relação da compra com a felicidade também. As peças do estilista Jeremy Scott sempre tiveram essa pegada de humor e alegria, e eu li essa matéria aqui que fala como a Moschino lucra com as fast fashion em geral, e vale muito a pena ler.

Quem é o dono da Riachuelo?

O dono da rede de lojas de departamento Riachuelo, Flávio Gurgel Rocha (Recife, 14 de fevereiro de 1958) é um empresário e político brasileiro filiado ao Republicanos. Já foi Deputado Federal pelo Rio Grande do Norte duas vezes consecutivas na década de 80 e em 2018, anunciou sua filiação ao PRB, para disputar a Presidência da República, e com isso deixou o comando da Riachuelo, mas posteriormente, retirou a pré-candidatura.

Nesse artigo aqui mostra o Flávio Rocha como um dos empresários brasileiros que apoiam o governo do Bolsonaro. Vale a pena ler e ver quais são os outros além dele.

As polêmicas envolvendo o dono da Riachuelo

Flávio Rocha ficou conhecido por causa das polêmicas trabalhistas e suas falas preconceituosas. O empresário faz parte da bancada evangélica e tem ligação com a igreja Sara Nossa Terra, a qual costuma defender ideais conservadores que vão contra temas como o casamento gay, aborto e o que chamam de “ideologia de gênero”.

Em 2016 a Riachuelo foi condenada a pagar uma pensão vitalícia à costureira lesionada devido às atividades exercidas na empresa. A ex-funcionária desenvolveu Síndrome do Túnel do Carpo, que provoca dores e inchaços nos braços. A ação aponta que a trabalhadora teve a sua capacidade laboral diminuída devido ao ritmo de trabalho exaustivo demandado pela fábrica da Riachuelo.

Segundo seu relato, a costureira era pressionada a produzir cerca de mil peças de bainha por jornada. A meta, por hora, era colocar elástico em 500 calças ou costurar 300 bolsos. Na ação, a funcionária diz que muitas vezes evitava beber água para diminuir suas idas ao banheiro. Idas que, segundo ela, seriam controladas pelo encarregado mediante o uso de fichas.

Em 2017 Flávio Rocha foi condenado pela Justiça Federal do Rio Grande do Norte pelo crime de injúria e danos morais praticados contra a procuradora do Trabalho Ileana Neiva Mousinho, quando  atacou a procuradora em várias postagens em seu perfil oficial nas redes sociais.

Ileana Neiva é a única mulher que integra o grupo de 10 procuradores do Trabalho responsável pela ação civil pública que cobra na Justiça R$ 37,1 milhões em indenização à Riachuelo pelo descumprimento de leis trabalhistas na contratação de costureiras para trabalhar em facções de costura no interior do Rio Grande do Norte.

Em 2017 as atrizes Fernanda Montenegro e Fernanda Torres receberam uma proposta do grupo Riachuelo para estrelar uma campanha publicitária para a marca no Dia das Mães. No entanto, elas desistiram de sequer negociar a campanha quando souberam que Flávio Rocha havia se filiado ao PRB para disputar as eleições de 2018 como candidato à Presidência da República, vinculado à bancada evangélica.

Dentre as propostas a serem combatidas por estes grupos estão a criminalização da homofobia, o casamento homoafetivo como lei no Brasil e o ensino de diversidade, orientação sexual e identidade de gênero na educação pública afim de se prevenir o bullying homofóbico e consequente alto índice de evasão escolar entre LGBTs.

Também em 2018 a Riachuelo foi a marca escolhida pela Marcha Nacional das Mulheres para protestar contra a precarização do trabalho feminino. Em São Paulo, as vitrines da loja Riachuelo da Avenida Paulista foram invadidas e seus manequins ganharam cartazes, pendurados pelo pescoço, com dizeres como “Trabalho terceirizado #Vidas Precárias” e “A indústria da moda explora as mulheres”. Em Maceió (AL) diante de outra loja da rede, mulheres distribuíram panfletos sobre a reforma trabalhista e a precarização do trabalho.

“A Riachuelo tem um vasto histórico de denúncias trabalhistas, é uma empresa que está sendo processada por precarização do trabalho”, diz Carla, citando também a posição política do dono da marca Flávio Rocha, pré-candidato à presidência pelo PRB (Partido Republicano Brasileiro) e um dos apoiadores da reforma trabalhista. “Por tudo isso, a gente achou que era um alvo interessante de denunciar. Mas a ideia é que seja uma crítica geral à indústria que explora o trabalho das mulheres”.

Em 2021 Flávio Rocha se mostrou contra a taxação de grandes fortunas com o seguinte argumento: “Taxar grandes fortunas empobrece os ricos. Queremos lutar contra a desigualdade ou contra a pobreza? Esse imposto consegue reduzir desigualdade, mas pela via não inteligente: expulsando ou empobrecendo os ricos”.

Por essa e outras, a Riachuelo não leva o meu dinheiro, e nem o das minhas clientes e leitoras – se depender de mim!

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Priscila Citera

Apaixonada por pessoas e por moda, resolvi unir a Psicologia e 12 anos de experiência em recursos humanos com a formação em Consultoria de Estilo pela Oficina de Estilo, e desde 2014 ajudo mulheres e homens desse mundão todo a transformarem personalidade em looks e roupas em representação da personalidade, sem que eles precisem gastar muito!