O tema da Semana Fashion Revolution 2022 (que começa hoje) é Dinheiro, Moda e Poder, e por ser um tema forte e incômodo, trouxe para o blog hoje pra gente refletir.
Dinheiro, Moda e Poder: tema da Semana Fashion Revolution 2022
Você pode ler mais sobre movimento Fashion Revolution nesse outro texto. Neste post, vamos descrever sobre o tema, o que cada uma dessas palavras do tema 2022 representa e quais os seus impactos.
Dinheiro
A indústria têxtil foi uma das pioneiras no processo de industrialização no Brasil e de acordo com a Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção), é o 2º maior empregador do País e faturou o valor de R$161 bilhões em 2020.
Desde a revolução industrial, a economia se baseia em uma cadeia de produção linear que consiste em extrair recursos, produzir bens e descartar os rejeitos, ou seja, superprodução – consumismo – descarte.
Este é um modelo econômico enraizado que está se mostrando inviável, primeiro porque causa esgotamento de recursos finitos do meio ambiente, por exemplo a água potável, e segundo porque gera muitos resíduos, ou seja, lixões a céu aberto.
Precisamos buscar novas formas de modelos econômicos e uma boa ideia é pensar em comprar de pequenos produtores e do comércio local (chamado locavorismo), que nesse caso é o meu, o seu, o nosso bairro. Todo mundo sai ganhando de uma forma mais justa e igualitária. Aqui nesse post do instagram eu falei mais sobre isso.
Moda
Com o avanço tecnológico na industrialização, o trabalho manual foi substituído por máquinas, tornando a produção mais rápida e eficiente e então surgiram os modelos padronizados, conhecidos como pret-à-porter ou ready to wear, que começaram a serem produzidos em larga escala.
Moda é sinônimo de costume, reflete o comportamento e consumo de uma determinada época. A moda cria linguagens, altera expressões de uma sociedade, interfere em comportamentos, na história econômica e cultural. Moda é expressão, é identidade – individual e coletiva, também é arte e moda também é política.
Tem dois fenômenos que se instalaram dentro deste cenário:
- a supervalorização do que é de fora, e o resultado é justamente o oposto, a desvalorização da cultura de moda brasileira e consequentemente a falta de compreensão do real custo de uma roupa;
- a fast fashion, que produz uma moda rápida, em grande escala e descartável e tem efeito colateral direto no emocional e social do consumidor, o motivando a comprar mais e com maior frequência, muitas vezes sem necessidade. O real problema não é a compra em si, mas se é mesmo uma necessidade pessoal ou imposta;
Olha esse dado: em 2020, SÓ o Brasil produziu 7,93 BILHÕES de peças (geral artigos têxteis). Veja bem, mundialmente somos 8 bilhões de pessoas. Um ÚNICO PAÍS, produziu para o MUNDO INTEIRO, soma-se a isso os outros países, quanto que dá?!
Eu tô passada, e você, ficou? Sinto-lhe dizer, mas, como consumidores, fazemos parte dessa moda que produz loucamente, então te convido a uma reflexão. Pra te ajudar nesse primeiro passo, dá uma lida nesse post que eu explico o que é consumo consciente e esse outro que traz dicas sobre como ser um consumidor consciente.
Poder
O Brasil é a maior cadeia têxtil completa do ocidente, é o 5º maior produtor de denin (jeans) e o 4º de malha do mundo. Também é referência mundial em design de moda praia, jeanswear e outros segmentos do setor.
Sim, essa é a indústria que mais emprega. Deste total, 60% são de mão de obra feminina. Esses dados seriam legais, se não fosse trágico as péssimas condições de trabalho dentro das fábricas. Começou lá atrás, na tal da industrialização, que por não necessitar de qualificação técnica, muitas pessoas foram atraídas, mesmo com os baixos salários e condições de vida não muito boas e isso permeia até hoje esse setor.
Para complementar a leitura: Sabia que a Zara andou zerando a lista? Ah, o Dia Internacional da Mulher é sobre isso também.
Enquanto poucos (as grandes marcas) ganham milhões e desfrutam de uma vida luxuosa, muitos (os trabalhadores) ganham pouco, nem sempre conseguindo suprir suas necessidades básicas e tantos outros estão em trabalho análogo a escravidão, vivendo em estado de miséria.
Por isso temos o dever de questionar #quemfezminhasroupas, primeiro pra sabermos em que condições a roupa foi produzida, segundo para darmos visibilidade a essas pessoas na perspectiva de gênero e raça e que levam nas costas essa cadeia, e compreender os impactos negativos que gera um efeito dominó no meio ambiente – social – econômico – cultural.
Semana Fashion Revolution 2022
O tema Dinheiro, Moda e Poder é um assunto complexo, que tem palavras divergentes mas também tem relação de interdependência e apresenta diversos aspectos, então, no site oficial do Fashion Revolution você consegue ver o material interativo e toda a programação que acontecerá de forma presencial e online. Vamos participar usando as seguintes hashtags nas redes sociais:
- #QuemFezMinhasRoupas
- #DoQueSãoFeitasMinhasRoupas
- #aCorDeQuemFezMinhasRoupas
- #CânhamoéRevolução
- #FashionRevolution
E não esqueça de acompanhar os posts no lá no meu instagram. Vamos juntxs revolucionar a moda!
OBS: Texto escrito por Fernanda Caetano em colaboração para o blog!