A Copa do Mundo 2023 de futebol feminino nem acabou ainda mas já podemos comemorar várias vitórias, e uma delas é ter uma atleta muçulmana usando seu hijab na Copa do Mundo pela primeira vez.
Eu adoro futebol e já contei lá no meu instagram sobre outras vitórias femininas no esporte, e também falei aqui no blog que a seleção brasileira teve sua primeira alfaiataria para a viagem, e o seu primeiro uniforme próprio nessa copa (com direito a inovação menstrual e tudo!), e não vão precisar mais usar o uniforme da seleção masculina nos jogos.
É claro que isso tudo é motivo de comemoração, mas ainda assim, precisamos lembrar que os homens já têm alfaiataria e roupa com tecnologia há muito tempo, e que esses direitos poderiam ter demorado muito menos para acontecerem!
E assim como os homens têm mais direitos que as mulheres desde sempre, as mulheres brancas, cis, hétero e ocidentais também têm mais direitos do que outras mulheres, como as negras, trans e de países muçulmanos, por exemplo (como se fosse uma hierarquia de privilégios), e por isso eu achei importante falar sobre a estreia do hijab na Copa do Mundo 2023.
O uso do hijab nos esportes
O hijab é uma espécie de lenço que muitas mulheres muçulmanas usam para cobrir os cabelos, orelhas e pescoço, por conta da sua religião, e eu fiz esse outro texto aqui com uma lista de influenciadoras muçulmanas que eu sigo lá no instagram para você conhecer e entender melhor o universo delas.
O futebol feminino já foi proibido no Brasil, que é conhecido como o país do futebol, e em outros países a história não é diferente. Mas, em países muçulmanos, as mulheres tiveram ainda mais dificuldade em ingressar nos esportes, porque o uso do hijab não era permitido em muitos esportes, por “quebrarem o dress code”.
Eu falei sobre o machismo no esporte nesse texto sobre todas as questões que envolvem a criação do uniforme das atletas em competições oficiais como as Olimpíadas e a Copa do Mundo, e um dos exemplos de conquista feminina aconteceu no Badminton (aquele jogo de peteca): Até 2012, a Federação Mundial de Badminton obrigava as mulheres a usarem saias para ‘tornar esporte mais feminino”, e atualmente as atletas podem escolher como vão competir.
Esse direito permitiu que cerca de dois terços das atletas mulheres usassem shorts, enquanto outras usavam short saia, vestidos e saias nas partidas de badminton dessas olimpíadas. Nessa foto abaixo, a atleta Soraya Aghaei Hajiagha, do Irã, compete de calças e hijab nas Olimpíadas de 2021, como a religião gostaria que as mulheres muçulmanas se vestissem em público.
Em 2017, vendo a dificuldade que as atletas muçulmanas tinham para competir em alto nível, por não terem um hijab adequado para a prática esportiva (muitos ficam saindo do lugar ou encharcam de suor), a Nike criou um hijab próprio para a prática de esportes.
Aliás, essa parceria de marcas com os esportes é muito importante e antigo. Antes das Olimpíadas de 2021 eu fiz um texto aqui falando sobre a relação de grandes marcas (como a Armani, a Levi’s, a Rauph Lauren, etc.) com o esporte e mostrando os uniformes feitos por essas grandes marcas para as olimpíadas.
Também pensando nas Olimpíadas de 2020, a Nike lançou uma linha de produtos batizada de Nike Victory Swim Collection, que tem roupas de banho leves e de cobertura total, criadas para oferecer liberdade de movimento na água.
A linha também tem leggings, túnicas e um hijab, e foram lançados nas lojas da Nike do Reino Unido, EUA e Oriente Médio, na época, mas já vi algumas influenciadoras muçulmanas usando essas peças aqui no Brasil também.
Não dá pra falar da estréia do hijab na Copa do Mundo sem olhar para esses pequenos avanços anteriores, assim como não falar da esgrimista Ibtihaj Muhammad, a primeira mulher norte-america muçulmana a participar (e ganhar uma medalha) usando o hijab, nas Olimpíadas do Rio de Janeiro, em 2016.
A estreia do hijab na Copa do Mundo 2023
Hoje (30/07/2023) aconteceu a tão esperada estreia do hijab na Copa do Mundo, durante a partida entre Marrocos e Coreia do Sul. Em 2007, a Fifa proibiu o uso de chapéus, hijabs, bonés e outras vestimentas similares durante partidas. Na época, a entidade sancionou a lei por “razões de saúde e segurança” que poderiam afetar os atletas. A proibição foi suspensa pela Fifa em 2014, após diversas manifestações de ativistas e jogadoras.
Hoje, vimos a história acontecendo através da zagueira Nouhaila Benzina, de 25 anos, que joga pela Seleção do Marrocos. Nouhaila Benzina esteve no time titular da partida de hoje, usando o hijab na Copa do Mundo pela primeira vez na história do esporte.
Além do hijab, a atleta usou uma blusa de manga comprida por baixo da camisa (que também é usado por jogadores homens no mundo todo, independente de religião) e uma legging, também na cor do uniforme, para cobrir o seu corpo.
A estreia do hijab na Copa do Mundo 2023 vai muito além de ser uma vitória pra ela ou para as mulheres muçulmanas (assim como várias outras conquistas femininas), porque é um direito alcançado, uma forma de representatividade e inclusão, além de servir como uma inspiração para várias meninas e mulheres muçulmanas sonharem em jogar futebol! Vai, planeta!