O desfile da Victoria’s Secret (conhecido como Victoria’s Secret Fashion Show) sempre foi um evento muito importante no mundo da moda, porque era um desfile de coleção de uma marca desejada pelas mulheres, e por causa das modelos.
Mas, com o tempo, felizmente a nossa consciência foi mudando e a gente foi percebendo o quanto era errado não ter representatividade na marca, que teimava em levar para a passarela apenas mulheres com corpos que não representam a grande maioria das mulheres. Nem eu, que visto 34/PP me sinto representada por elas, que não tem barriguinha e nem celulite!
A marca começou a se posicionar de forma errada diante dos questionamentos, e uma das falas mais problemáticas veio do então Diretor de Marketing, Ed Rezek, que disse que “nunca teria uma modelo plus size ou trans desfilando”, falando da top brasileira Valentina Sampaio, que fez teste e foi reprovada na época (depois, Ed Rezek caiu e Valentina Sampaio foi alçada a modelo da marca).
É importante dizer que os desfiles da Victoria’s Secret influenciou e foi influenciada pela moda e pelo que acontece na sociedade, como todo o resto. Vou falar disso a seguir.
O fim das Angels da Victoria’s Secret
Em 2021, depois de 26 anos perpetuando a magreza, a gente viu finalmente a marca retirando as Angels das passarelas, e isso foi um marco super importante, e por isso, depois de mostrar na época alguns pedaços desse novo posicionamento da Victoria’s Secret no meu instagram, eu trouxe o tema pra cá.
Vale lembrar que em 2019 a marca sofreu pressão popular para ser mais diversa e optou por não fazer o desfile, que acontecia todos os anos no natal. “Quando o mundo estava mudando, demoramos muito para responder”, disse Martin Waters, o ex-chefe de negócios da marca e agora presidente-executivo, “Precisávamos deixar de ser sobre o que os homens querem e ser sobre o que as mulheres querem.” Siiiiim, é sobre isso!!!!!!
O símbolo de “anjo” que essas mulheres recebiam desde 1995, com direito a asas e tudo por mais de duas décadas fez com que o mundo inteiro quisesse ser como elas, que foram consideradas ícones do padrão de beleza da época.
Para relembrar algumas das Angels mais importantes (começando pelas brasileiras):
- Gisele Bündchen
- Adriana Lima
- Alessandra Ambrósio
- Lais Ribeiro
- Kendall Jenner
- Naomi Campbell
- Behati Prinsloo
- Taylor Hill
- Jasmine Tookes
Mas, esse fim era só momentâneo, pra seguir a moda e as demandas da sociedade que, aparentemente, mudou.
A volta do Victoria’s Secret Fashion Show
Agora em 2024, depois de fazer um desfile com mais diversidade no corpo das modelos e crítica de muitas pessoas da moda sobre como essa apresentação foi feita (os corpos maiores estavam mais tampados, enquanto os corpos magros estavam mais à mostra e tão magros quanto nessa época do auge da marca), eu vi vários comentários de mulheres dizendo que querem ver “o inalcançável”, essa beleza que é inalcançável até mesmo para essas modelos.
Como eu sou consultora de estilo desde 2010, faz parte do meu trabalho acompanhar esses movimentos da moda e infelizmente as pessoas estão cada vez mais conservadoras, e depois de caminhar alguns passos pequenos em direção a mais diversidade e personalidade, voltamos alguns passos largos para uma uniformização dos corpos e do que esses corpos vestem.
Também é importante dizer que apesar das críticas, as modelos plus size que desfilaram viram como uma vitória terem participado desse novo momento da marca.
A primeira campanha do dia das mães da Victoria’s Secret
Quando tinha 26 anos de existência, esse ano a Victoria’s Secret fez uma campanha do dia das mães pela primeira vez, e isso é MUITO simbólico e importante, tanto pra mostrar a mudança no posicionamento da marca (que usou, inclusive, uma mulher grávida na campanha também pela primeira vez!), quanto para dizer ao mundo que uma mulher grávida pode ser sexy SIM, e mãe é uma mulher que tem filhos, como eu vivo falando aqui – apesar de essa foto ter muito mais cara de “mãe sagrada / angelical” que uma mãe sexy, né?
Além disso, a marca passará a vender sutiãs de amamentação e uma moda lingerie mais prática, funcional no geral, com opções mais básicas e esportivas, além da linha sexy e os famosos fio dental de renda.
VS Collective
O primeiro grande passo nessa mudança no posicionamento da marca foi o VS Collective, um projeto que trará personalidades “ícones de liderança” e “agentes de mudança” que são conhecidas pelas suas militâncias (como a Megan Rapinoe, que é uma jogadora de futebol dos EUA que luta pela equidade salarial entre os gêneros) como porta-vozes da marca.
Ser porta-voz hoje em dia é MUITO mais além que vestir a roupa ou fazer um #publi, mas a ideia da empresa é alcançar um público mais amplo e “moldar o futuro da grife”. Os nomes do VS COLLECTIVE (abaixo) irão alternadamente aconselhar a marca, aparecer em anúncios e promover a Victoria’s Secret no Instagram.
E apesar do diretor ainda ser um homem, os cargos na empresa serão compostos majoritariamente por mulheres, o que, inicialmente, já ajuda pra caramba a entender o que a gente quer ver e comprar.
Eu estou animada com essa vitória (trocadilhos à parte rsrs) e espero que outras marcas se inspirem, pensem mais no desejo e nas demandas das mulheres, tragam mais representatividade, e repensem o conceito de SEXY, que é muito mais diverso do que a gente costuma ver por aí!
A Rihanna influenciou nessa mudança?
E por falar em militância, a Rihanna pode sim ter influenciado a mudança da Victoria’s Secret, criando a sua marca Savage X Fenty em 2018 usando modelos de todos os tamanhos de corpos, dançando durante os desfiles e mostrando que além de beleza, as peças eram funcionais – que é o que a gente quer, né?
Consegue ver que já nesse primeiro desfile, a marca da Rihanna já trouxe uma mulher grávida numa lingerie sexy – o que a Victoria’s Secret demorou 26 anos pra fazer? A marca vem crescendo MUITO desde 2018, e no início desse ano recebeu um investimento de R$500 milhões para ter lojas físicas e mais peças confortáveis!
Vale lembrar que nas aparições da Rihanna nos desfiles da Victoria’s Secret ela sempre estava “tampada” demais para os padrões dela, o que pode ser um sinal de que era uma forma de ela não “ofuscar” as modelos ou chamar a atenção pela sua beleza, num corpo muito menos magro, como nessa foto de 2012:
Riri rainha! ❤