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Djamila Ribeiro campanha Prada 2021

A Djamila veste Prada

A “polêmica” da vez no mundo da moda é a publicidade que a Djamila Ribeiro (escritora ativista do feminismo e da luta negra, professora e formada em filosofia) fez com a Prada, marca italiana de luxo.

Usei o título “A Djamila veste Prada” em referência ao filme “O Diabo veste Prada” justamente por trazer vários lados da moda e da nossa relação com o consumo de moda que eu gosto de trazer pra cá e pro meu instagram, e também por estarem demonizando o fato de ela ser garota propaganda da marca.

Afinal, é ou não uma contradição, visto que as pautas que ela defende são bem diferentes do perfil da Prada? Dá pra fazer as duas coisas ao mesmo tempo, ou é mesmo impossível e incoerente? Eu não sei a resposta, mas como consultora de estilo, feminista e aliada da luta contra o racismo, trouxe esse convite à reflexão – ainda que a gente não chegue a uma conclusão.

A Djamila pode usar Prada?

Sim, a Djamila pode usar Prada e qualquer outra marca que ela quiser, seja comprando os itens com o seu próprio dinheiro, ou recebendo por isso, como é o caso da publicidade que ela fez com a marca para a divulgação da bolsa Galleria (uma das mais icônicas da marca, que tem esse nome por causa da primeira loja da marca em Milão, na Galleria Vittorio Emanuele II), da campanha da coleção 2021, Galleria Saffiano Lux.

Djamila Ribeiro bolsa da Prada

O próprio feminismo que a Djamila Ribeiro defende e é bem ativista “permite” que ela use o que ela quiser. Além disso, o feminismo negro é sobre a ocupação de mulheres negras em lugares que antes eram predominantemente de mulheres brancas – o que inclui as campanhas publicitárias de marcas de luxo como a Prada.

Aqui vale a reflexão, fazendo esse recorte: Essa polêmica existiria se fosse uma mulher branca usando uma bolsa de R$16 mil reais? Óbvio que não, porque isso é o “normal”, assim como a maioria das pessoas ainda não vê como normal associar os negros ao luxo – sendo que eles consomem sim itens de luxo, e a ideia é que, saindo da pobreza, eles consigam comprar o que, por muito tempo, foi visto como “supérfluo” ou fútil, como é considerada a moda.

Poderíamos falar em racismo estrutural considerando só isso, mas talvez tenha chocado tantas pessoas pelo fato de ela defender causas da luta negra, sendo o trabalho escravo (usado por muitas marcas de moda, incluindo a Prada) uma delas, – já que os negros são, em sua grande maioria, a mão de obra utilizada nisso. Mas e se fosse a Zara, que também usa trabalho escravo, mas é uma loja de departamento? Seria menos pior?

Djamila veste Prada

Talvez se eu fosse a garota propaganda da Prada, ainda que eu seja defensora dos direitos dos trabalhadores e do consumo consciente, causasse menos polêmica. E aqui, de novo, parece um caso de racismo. É mais “aceitável” uma mulher branca conquistar a capa de revista e fazer campanhas com marcas tão grandes quanto a Prada.

A gente está acostumada a ver pessoas negras em catálogos e campanhas de lojas de departamento, né? Mas o mundo está mudando, e o mundo da moda felizmente está acompanhando essas mudanças, e eu espero que isso seja cada vez mais comum.

Mulheres de esquerda e o consumo de itens de luxo

Também é importante trazer para essa conversa o fato de que muita gente acha incoerente a esquerda gostar de coisas boas e caras, já que é comumente associada ao comunismo e ao socialismo (de forma bem equivocada, óbvio!).

O comunismo e o socialismo também defendem a igualdade social, e o que leva as pessoas a pensarem que essa igualdade seria nivelada por baixo, com todo mundo tendo só o básico, ao invés de ser uma sociedade onde todo mundo consegue estar do meio da pirâmide de Maslow pra cima?

Pirâmide de Maslow - feminismo negro e o luxo

Não tem nada de errado com o fato de mulheres de esquerda (como eu e a Djamila Ribeiro) gostarmos de moda e ter o desejo de ascender profissionalmente – o que pode garantir, além do básico, o consumo de itens de luxo, se a gente quiser. Aquela música do Titãs da década de 80 já dizia que “a gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte”.

Queria inclusive indicar o perfil da Maraísa Fidelis, que é uma influenciadora negra que eu sigo há muito tempo, e fala sempre sobre o consumo de luxo para mulheres negras!

Eu vivo falando aqui que a moda também é política, e vale dizer que até mesmo a China (que é um dos poucos países que conseguiram implantar o comunismo) vive do capitalismo, tanto internamente quanto na relação com o resto do mundo.

A Djamila veste Prada e não tem nada de errado nisso

A luta da esquerda não é sobre voto de pobreza. O feminismo negro é sobre igualdade, e uma mulher negra ter o que as mulheres brancas já têm há décadas, é super coerente com a causa que a Djamila defende.

Em 2019, quando a Djamila Ribeiro foi convidada para o desfile da Prada pela primeira vez, ela falou à Marie Claire: “O mundo da moda parecia algo muito inacessível. Fiz filosofia, escrevi livros, e sinceramente não me passava pela mente ingressar nesse espaço. Mas como disse a Lilian Pacce, ‘quando uma grande marca, como a Prada, resolve convidar para o desfile uma mulher que é filósofa, feminista, engajada e negra, é um sinal de que alguma coisa está mudando na moda, não é?’“. Eu acho que sim!

Tem um ponto de vista diferente do meu? Tem algo pra acrescentar nessa discussão? Comenta aqui!

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Priscila Citera

Apaixonada por pessoas e por moda, resolvi unir a Psicologia e 12 anos de experiência em recursos humanos com a formação em Consultoria de Estilo pela Oficina de Estilo, e desde 2014 ajudo mulheres e homens desse mundão todo a transformarem personalidade em looks e roupas em representação da personalidade, sem que eles precisem gastar muito!