Até bem pouco tempo atrás, Black Friday era um dia que as lojas vendiam seus produtos com descontos, mas atualmente as lojas antecipam a data e fazem uma semana ou quinze dias de Black Friday, e a gente começa a receber e-mail das marcas, e a ver o adesivo nas vitrines. Assim, é fácil lembrar de alguma coisa que a gente “precisa” ou se apaixonar por alguma coisa que a gente nem sabe exatamente onde usar, nem como usar, nem quando vai usar, mas resolve comprar assim mesmo porque “tá barato”.
O conceito de “caro” e “barato” varia de pessoa pra pessoa quando se fala em preço, mas uma coisa nunca muda: O custo x benefício do que você usa muito é sempre melhor que o daquilo que fica parado no guarda-roupas. Vou ensinar a calcular o custo x benefício das peças a seguir e te mostrar o que saber antes de comprar roupas na Black Friday.
Quem me segue no Instagram viu que ontem eu aproveitei o domingo chuvoso aqui no Rio para ver filmes, e um deles foi o documentário “The true cost“, ou “os custos reais”, que fala sobre o impacto da indústria da moda no ambiente e na sociedade, e em breve falarei mais sobre o documentário aqui no site.
Apesar de o documentário ser bem impactante, nada ali era novidade pra mim, pois como consultora de estilo eu me sinto na obrigação de estar sempre estudando e de falar com as minhas clientes e com quem lê os meus textos na internet sobre consumo consciente, e daí surgiu a ideia de fazer esse texto.
Perguntas que você deve se fazer antes de comprar roupas na Black Friday:
Eu sei que vai ser difícil lembrar desse texto na hora da compra, então imprime esse texto, guarda na bolsa e quando estiver no provador, tente responder:
Essa peça combina com o que eu tenho no guarda-roupas?
Uma roupa deve combinar com pelo menos outras três peças para valer a pena. E quando eu falo três peças, vale dizer que não podem ser três peças iguais, como três calças jeans, ou três camisas sociais de botão que só mudam a estampa e a cor, por exemplo. O ideal é que ela combine com três peças diferentes, para não ficar com cara de uniforme.
Vale o custo x benefício?
Quando a gente fala de roupa, o benefício é a usabilidade, ou seja, quanto mais você usa uma peça, mais barata ela é. Para isso, vamos considerar que você só possa gastar R$200,00 na Black Friday e gostou de uma calça jeans e de uma blusa de paetês, sendo que a calça jeans custa R$200,00 e a blusa custa R$100,00 e você está em dúvida do que comprar.
Vamos considerar que você vá usar a calça jeans 1x por semana, durante os próximos 3 anos (por mais que ela possa durar mais que isso):
Preço da calça: R$200,00
Vida útil: 3 anos
Expectativa de usabilidade/ano: 48 vezes (4x por mês); então, 3 anos x 48 vezes = 144 usos.
R$200,00 / 144 = R$1,39 (custo da calça por uso)
Seguindo o mesmo raciocínio, vamos calcular o custo x benefício da blusa de paetês, que parece, à primeira vista, mais barata que a calça jeans, considerando que você não tem uma vida social noturna muito ativa e só vai à baladas 1 sábado por mês, e que só usaria a blusa durante o calor (6 meses ao ano), ou seja, a probabilidade é que você a use 2x por ano, já que tem outras blusas. Se ela ficar no seu guarda-roupas por 5 anos, você vai ter usado a blusa apenas 10 vezes, com custo de R$10,00 por uso.
Nesse caso, a calça jeans é mais barata que a blusa de paetê, pois o custo x benefício dela é melhor.
Eu dou outros exemplos pra você entender melhor sobre custo benefício das roupas nesse texto aqui.
Combina com o meu corpo?
Quando eu falo de peças que “combinem com o seu corpo” eu não estou falando em certo e errado para cada tipo de corpo, e sim da sua relação com o seu corpo e o que você escolhe mostrar ou esconder. Se você odeia as suas costas, porque tem manchas ou espinhas, por exemplo, não vale a pena comprar uma blusa com um decote nas costas só porque ela está barata, porque provavelmente você não vai usá-la ou só vai usar com uma terceira peça por cima (casaco, blazer, colete, etc), para esconder as costas.
Também não vale comprar peças para quando você emagrecer aqueles 10 kgs. Acredite: Você vai encontrar peças tão legais (e tão baratas) quanto essa quando tiver emagrecido. Não vale a pena ter agora um monte de roupas para usar só no futuro!
Cabe na minha rotina?
Vamos lembrar do exemplo da blusa de paetês: Se você não tem uma vida social noturna ativa, você não precisa ter várias peças que você só usaria à noite, em baladas. Então, pense na quantidade de peças que você já tem para usar na balada, para saber se precisa comprar essa peça, mesmo na promoção.
A rotina da cliente é uma das questões que eu mais considero na consultoria de estilo, porque comprar peças que não cabem na rotina é um dos motivos de se ter um guarda-roupas lotado e ainda assim achar que não tem nada pra vestir.
O movimento Lowsumerism, que é um termo que significa “baixo consumo” mostra num vídeo (abaixo) a necessidade de repensar a forma de comprar, e sugere responder às perguntas abaixo:
Eu preciso disso?
Precisar é bem diferente de querer, então vale pensar de novo na sua rotina, e nas peças que você já tem no guarda-roupas antes de dizer se quer um scarpin preto novo, ou se realmente precisa de um scarpin preto novo.
Eu posso pagar por isso?
Comprar e parcelar no cartão de crédito é uma facilidade, mas facilita também o acúmulo de dívidas, então se pergunte se pode pagar essas compras sem comprometer o seu orçamento, sem deixar de pagar contas mais importantes ou sem acumular juros no cartão por não conseguir pagar o valor total da fatura, por exemplo.
Essa compra é para afirmar a minha personalidade?
Você está comprando algo só para mostrar que tem? Só para fazer parte de um grupo? Para afirmar a sua personalidade através desse objeto?
Sei de onde isso veio e pra onde isso vai? Essa compra prejudica o planeta? Quantas compras como esta o planeta suporta?
O documentário “The true cost” fala de condições precárias de trabalho, do prejuízo ambiental e social do consumo, e existem algumas coisas que você pode fazer para ajudar a diminuir esses problemas: procure saber o histórico da marca quanto a trabalho escravo e responsabilidade social, além de dar prioridade para produtos que têm o “selo verde”, como os recicláveis, orgânicos e biodegradáveis, que não vão demorar anos para se degradar e nem poluir o ambiente.
Um estudo mostrou que se todo mundo consumisse como um estadunidense médio, seriam necessários cinco planetas Terra para satisfazer toda essa voracidade.
Estou sendo iludida pela propaganda?
Você vai comprar o perfume ou a imagem da mulher que chama a atenção por onde passa, quando está usando o perfume?
Se quiser conhecer um pouco mais sobre o Lowsumerism, assista ao vídeo:
Comprar melhor é diferente de não comprar
Um ditado sueco diz que “quem compra coisas que não precisa ou não usa está roubando de si mesmo”. No documentário “the true cost” alguém fala sobre a gente achar que é rico por poder comprar muitas coisas baratas o tempo todo, e esse texto não é pra te convencer a parar de comprar, mas sim para te ensinar a comprar melhor, para o seu bem, o bem da sociedade e do planeta.
Espero que eu consiga ter te ajudado com o que saber antes de comprar roupas na Black Friday. Boas compras!
2 comentários
[…] Vale a pena priorizar roupas feitas no Brasil, pra incentivar a produção local e evitar comprar de lugares com histórico de trabalho escravo, como a China e Bangladesh, por exemplo, onde aconteceu o maior acidente têxtil do mundo (Edifício Rana Plaza, citado no documentário “The True Cost”, que eu falei aqui. […]
imposible no estar de acuerdo contigo.todo lo asociado a internet suena a profanos y jefecillos de la tuerca y máquina de escribir a ‘profecias’ y l2;sorti1egios .asà me siento yo en la mayorÃa de las reuniones
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