Esses dias eu estava conversando com uma cliente da consultoria de estilo online e ela me contou que na escola do filho dela (que tem 4 anos) a festa junina tem algumas regras para evitar preconceitos e reforçar estereótipos – como fazer pares só com meninos e meninas para dançar a quadrilha ou pintar o dente de preto para imitar o dente podre dos “caipiras”, e isso me fez refletir um pouco sobre o preconceito com a camisa xadrez.
Camisa xadrez é roupa de festa junina?
Desde 2014, na maioria dos guarda-roupas que eu conheci (de mulheres e homens), tinha pelo menos uma camisa xadrez parada lá no cabide pra ser usada apenas na festa junina anual, como se fosse uma fantasia, sabe?
Quando essa cliente falou sobre coisas que reforçam esse estereótipo de caipira / pessoa que mora na roça, eu finalmente entendi o problema com a camisa xadrez: a associação com uma pessoa simples, pobre e mal arrumada (porque está cuidando de animais e plantas no sítio / fazenda o dia todo) faz com que as pessoas não se sintam bem arrumadas.
Eu já até fiz um texto aqui sobre como usar xadrez sem ficar com cara de festa junina, pra poder ajudar a essas pessoas, e se você também pensa assim, vale a pena ler esse texto e se inspirar para a festa desse ano.
Também já usei um exemplo parecido lá no instagram para falar de como essas associações interferem no nosso julgamento: O mix de estampas do Harry Styles parece algo bonito e caro, enquanto os looks que o Agostinho Carrara usava na “A grande família” parece estranho e de mal gosto.
O que esses dois exemplos têm em comum? O fato de que a gente valida como bom e bonito o que é visto como “coisa de rico”, enquanto o que é visto como “roupa de pobre” é visto como errado, ruim e feio. E não precisa ficar com vergonha por perceber que pensa assim não, tá? Isso é cultural. A gente foi criado pra pensar assim, e a mídia reforça o tempo todo que a gente deve querer se parecer com a forma que a classe dominante é.
A elegância eurocêntrica tá aí pra mostrar o meu ponto. É com eles que a maioria das pessoas quer parecer, mesmo morando num país com cultura mais colorida e informal e clima quente demais pra usar blazer todos os dias.
Camisa xadrez sem cara de festa junina
Existem vários tipos de padronagens / estampas xadrez, e uma forma de você conseguir usar mais a sua camisa xadrez é escolhendo uma padronagem que você não associe à “roupa de caipira”. O xadrez Príncipe de Gales, por exemplo, era o xadrez favorito da Lady Di. Quer coisa mais oposta à vida simples no interior que roupa de princesa?
Também vale usar a camisa xadrez com peças diferentes de calça jeans e bota, já que é o look caipira mais usado (e por isso mais estereotipado). Vale usar um mocassim metalizado e short de alfaiataria ou de couro, por exemplo. Também vale substituir a camisa xadrez de botão por um modelo diferente, que seja mais moderninho, já que modernidade também parece o oposto à vida simples do interior, né? (Lembra do estereótipo?)
Nem preciso dizer que usar uma camisa xadrez na sua cartela de coloração pessoal também vai facilitar que você veja possibilidades de uso em outras situações, né? E se você ainda não sabe a sua cartela, me manda uma mensagem por aqui pra gente fazer a sua análise, presencial aqui no RJ ou online no mundo todo!
Xadrez é a estampa do inverno
Assim como o floral é a estampa da primavera, o xadrez é a estampa do inverno (e nesse texto eu mostro vários tipos de padronagens de xadrez, pra você ver qual combina mais com o seu estilo).
Por causa do frio, muitas peças em xadrez são mais quentinhas (e a festa junina também é no inverno). Então, se a sua camisa xadrez não for de flanela, também pode facilitar o uso no resto do ano, quando os dias estiverem mais quentes.
Espero que esse texto tenha te ajudado a refletir sobre o assunto, e que você use mais a sua camisa xadrez a partir de agora!