Eu já falei aqui que tenho peitos pequenos, e a minha relação com essa parte do meu corpo nem sempre foi tão bem resolvida quanto é hoje, e por isso eu me sinto na obrigação de devolver ao universo, na forma de textos que ajudem a melhorar a autoestima das mulheres, o que o universo me deu em forma de mãe. E eu vou falar dessa minha história pessoal aqui por causa das críticas severas que rolaram sobre os peitos da Bruna Marquezine no domingo de carnaval.
Eu até desabafei no meu instagram, mas achei que eu podia fazer mais e atingir mais pessoas com esse texto sobre o que fizeram com a Bruna Marquezine, e por isso eu tô aqui, trabalhando na segunda-feira de Carnaval.
A minha mãe morreu com câncer aos 49 anos, em Maio de 2000. Eu tinha feito 19 anos recentemente, e meu irmão ia fazer 17 em alguns dias, mas a gente conviveu com essa doença por 10 anos, porque ela descobriu o câncer de mama aos 39 anos, em 1990, quando eu nem tinha peito ainda.
Para contextualizar, vou postar uma foto minha aqui, pra dizer que eu continuo não tendo peito:
Quando a minha mãe precisou passar por uma mastectomia total e perdeu o peito esquerdo eu tinha quase 10 anos, e durante a minha adolescência toda eu chorei e reclamei no ouvido dela a infelicidade de ver todas as minhas amiguinhas da escola com o peito mais desenvolvido que o meu.
Lembrar disso hoje me dói, porque hoje eu vejo o quanto fui egoísta (sem saber, porque eu tinha 10 anos!!) e ingrata por ter dois peitos pequenos enquanto minha mãe só tinha um. Essa é uma das minhas fotos favoritas com ela:
E a minha mãe, com um peito só, me dizia o quanto eu era linda e ao mesmo tempo sempre me mostrou o quanto ela se achava linda, mesmo com uma cicatriz do lado esquerdo no lugar do peito. E isso construiu a minha autoestima e a imagem que eu tenho de mim como mulher, me ajudando a gostar de mim exatamente como eu sou, e a não ver o fato de ter peitos pequenos como um problema.
Mas nem toda mulher tem a felicidade de ter uma mãe como a minha, e várias meninas crescem inseguras com o seu corpo. Pra piorar, a mídia e a sociedade também vê e critica com crueldade todo corpo que é diferente dos padrões de beleza que cada um tem.
Sobre os peitos da Bruna Marquezine, padrões estéticos e sororidade
A Bruna Marquezine deve ter uma boa autoestima. Inclusive, nesse dia, ela estava com um adesivo no ombro com as iniciais IDGAF, que significa, em português, “eu não dou a mínima”. Mas, mesmo tendo uma boa autoestima, não é legal ver ninguém falando coisas ruins sobre você e sobre o seu corpo. Ela é uma pessoa pública, mas o corpo dela não é! O corpo de ninguém deveria ser motivo de assunto – a menos que seja para elogiar de forma respeitosa.
O mundo é tão diverso, e ninguém é obrigado a achar a mesma coisa bonita ou gostar da mesma coisa. Isso vale para roupa, cabelo, música, tipo de corpo, comida e tudo o mais. Mas eu não consigo, de verdade, aceitar que em pleno 2018 as pessoas ainda se sintam no direito de criticar o corpo alheio e dizer como ele deveria ser: Mais gordo, mais magro, mais forte, mais alto, com o cabelo liso, com menos tatuagem, sem celulite, com silicone…
Veja alguns tipos de peitos. Eles têm formatos, tamanhos e cores diferentes. Porque apenas um tipo pode ser considerado bonito? E porque diabos alguém acha que O SEU IDEAL DE BELEZA é o que conta??
O que mais me incomodou foi o fato de a maioria dos comentários ser de outras mulheres. Mulheres que sofrem todos os dias com as cobranças e padrões estéticos, e que se sentem pressionadas a serem tão bonitas quanto a própria Bruna Marquezine ou outra famosa qualquer (ou a sua amiga, irmã, vizinha, colega de trabalho, a ex do seu atual, etc.).
Mulheres que têm a sua autoestima destruída todos os dias por não vestir 38, por ter celulite ou barriga, por não ter o cabelo liso, o olho azul, as pernas torneadas, a cintura fina ou o peito durinho. Mas na hora de fortalecer outra mulher, falta empatia. Falta sororidade. Falta compaixão.
Teve gente falando que a Bruna Marquezine precisava engordar. Teve gente falando que ela precisava colocar silicone. Teve um monte de gente sem vergonha da própria língua, e por isso o mundo tá cheio de gente com vergonha do próprio corpo. E esse texto é pra pedir pra você não ser esse tipo de pessoa.
Eu falo mais sobre a saudade de ter mãe e a saudade de ser filha aqui, na minha coluna do Superela.