Eu gosto muito de falar de consumo consciente e comportamento de compra aqui e lá no instagram, e esses dias eu vi viralizando no tik tok uma “nova tendência”, que fala sobre dupes, e apesar de ser um termo novo, já foi assunto aqui no blog.
Eu também vi alguns conteúdos nas redes sociais falando de dupes como um problema e como tendência, e além de te contar o que é, vou te conduzir a pensar se é certo ou errado comprar e usar dupes.
O que é dupes?
Dupes é um termo novo, mas que fala de uma coisa mais antiga na moda e na beleza, e que tem crescido bastante com sites como a shopee ou a Aliexpress (que vende dupes da Zara), por exemplo, e as pessoas que defendem a cultura dupes, porque é uma forma de as pessoas terem acesso a itens que não comprariam no valor original.
Para quem não sabe, dupes vem da palavra em inglês “duplicate” (duplicado), mas também é um termo usado pra falar de um engano (entende o duplo sentido?) e virou tendência quando influenciadoras e blogueiras começaram a “admitir” que compram / usam produtos falsificados, por terem um preço mais acessível do que o produto original, que gerou esse desejo.
Algumas pessoas defendem que o dupes é tanto o produto inspirado no produto original (que na moda a gente chama de “inspired”) ou uma cópia mais literal, e tem quem fale de dupes só como o produto falsificado.
Apesar de eu não saber definir o que é dupes e o que não é (porque inclui inclusive direitos autorais, que é um assunto que eu não domino), eu sou totalmente contra itens falsificados (não compro e nem uso como consumidora / pessoa e nem indico / incentivo o uso para as minhas clientes como consultora de estilo), mas acho aceitável e até correto ter itens em alguns níveis de inspiração.
Diferença entre falsificado e inspired
Como eu falei, tem quem defenda que dupes falem tanto de itens falsificados quanto de itens inspirados em produtos originais, e acho importante trazer essa diferença para você chegar à sua própria conclusão.
Eu trabalho como consultora de estilo desde 2014, e mesmo antes de entrar pra área de moda, eu já tinha tido acesso a itens falsificados, que sempre foram vendidos livremente em camelôs aqui no Rio de Janeiro, tanto em itens de beleza quanto na moda. Mas, eu só fui entender o conceito de “inspired” quando comecei a trabalhar e estudar sobre moda.
Quando eu falei que defendo alguns níveis de inspiração é por entender que tudo na moda é um pouco ”nada se cria, tudo se copia”, e a inspiração já é uma coisa comum / liberada na moda: A primeira coisa importante a ser lembrada é que a moda nasce da cópia.
A cópia se estabelece no momento em que as classes ascendentes procuram copiar os trajes da nobreza que, para se diferenciar, vai remodelar os modos de vestir. Assim, cria-se um movimento constante de cópia e renovação, que vai dar no sistema que temos hoje, ao qual chamamos moda.
Uma peça da moda, que provavelmente foi criada por um estilista “X” é recriada por outras marcas e vendida nas lojas de departamento, por exemplo, que “criam” coleções inteiras em cima da criação de outras marcas.
Ao abrir o guarda-roupas das minhas clientes, eu encontro sempre itens bem parecidos (seja de peças mais clássicas / atemporais quanto itens de moda) de marcas diferentes, mas algumas coisas são consideradas inspirações, como no caso da bolsa Birkin, da Hèrmes, por exemplo, que já teve caso de condenar com multa uma marca brasileira em 2016 por vender um modelo MUITO parecido / inspirado, mas ao invés de ser no couro, tinha sido fabricada em moletom (e essa informação foi usada para dizer que não era uma falsificação e sim uma inspiração).
Enquanto a versão de moletom da marca 284 custava em torno de R$400, a bolsa original custa a partir de R$30 mil aqui no Brasil. Eu falei nesse texto aqui sobre o que faz as pessoas quererem comprar bolsas de luxo falsificadas.
A Hèrmes inclusive é uma das marcas consideradas “quiet luxury”, que também virou tendência pelo mesmo motivo: ter acesso, mesmo que através de dupes, ao que só quem tem muito dinheiro tem!
Comprar dupes é certo ou errado?
Esse processo aconteceu porque ao serem reconhecidas pelo seu cunho estético e originalidade, as criações de moda se tornam obras artísticas protegidas pela Lei de Direito Autoral, independentemente de registro de qualquer natureza.
Além disso, eu acho que o mais importante é que o consumidor não seja enganado, devendo saber exatamente o que está comprando, sejam os dupes algo inspirado, ou falsificado, sabendo que não está comprando o produto original – e em consequência disso, os benefícios que em alguns casos só o produto original pode oferecer, porque costumam ter uma qualidade melhor, fazendo com que cada centavo pago valha a pena.
Nesse vídeo que eu postei lá no instagram, por exemplo, não fica claro, em momento nenhum, que se trata de um tênis falsificado, e ainda leva o consumidor ao erro, já que não é comum vender os tênis separadamente. Na minha visão, só quem conhece a marca vai saber que é um item falsificado / dupes (por causa da diferença do preço do original), e ainda tem a chance de alguém achar que é mais barato porque está sendo vendido separadamente.
Como eu falei no início, eu não tinha a intenção de chegar a uma conclusão com esse texto, e só trouxe o tema pra cá pra reflexão mesmo – e mostrar a diferença entre cópia, inspiração e falsificação!