Hoje (25/05) é o dia da costureira, e além de eu ter uma relação de carinho pessoal com essa profissão (já que a minha mãe era costureira), eu dou muito valor a essa profissão – que infelizmente é pouco valorizada na indústria da moda, e que sem ela, a moda simplesmente não existiria!
A costureira na indústria da moda
Só para a gente ter uma ideia, segundo a ABIT (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção), o Brasil concentra 1,5 milhões de trabalhadores na indústria têxtil e vestuário. Sendo, aproximadamente, 75% dessa mão de obra composta por mulheres.
Além disso, o ofício da confecção ainda é predominante para muitas que não chegam a ter, ao menos, a oportunidade de crescimento ou ocupações em outros cargos no setor.
O salário da costureira
Essas mulheres passam uma vida inteira costurando com jornadas de trabalho exaustivas, já que a maioria trabalha por produção e ganha valores bem baixos por peça.
Quando falamos em sustentabilidade e consumo consciente na moda, precisamos entender que isso deve englobar um salário justo para os profissionais da área, e aí percebemos que ainda estamos bem distantes do que seria o ideal.
De acordo com dados compartilhados pela ABIT em 2020, o pagamento médio de uma costureira era de R$1.322,82 – estando formalizada no mercado de trabalho brasileiro, com uma jornada de trabalho de 44 horas semanais.
Vale lembrar que esse é o valor atribuído para as costureiras que se encontram em situação regular, muito além de tantas outras que seguem na informalidade e/ou sofrem exploração em caráter de trabalho análogo à escravidão.
A minha mãe sempre trabalhou em casa, sem vínculo empregatício e ganhando um salário de acordo com a sua produtividade, e eu lembro de sempre ver ela trabalhar muito durante a minha infância e início da adolescência (ela morreu em 2000, quando eu tinha 19 anos). Eu não sei de quando é essa foto abaixo, mas com certeza é de antes de 1990, quando ela passou pela mastectomia por causa do câncer:
Postei a história afetiva do meu vestido de casamento lá no instagram ano passado, que foi uma homenagem que eu fiz a ela:
Falar sobre sustentabilidade sem pensar em oportunidades justas para todos os que fazem parte desse mercado, é continuar segregando e perpetuando ações que nada tem a ver com a transformação que precisamos ver acontecer no mundo da moda, e que a gente faz parte (como consumidores).
Por isso, eu sempre estou incentivando e apoiando marcas e negócios que fazem um pagamento justo e oferecem um trabalho digno a essas profissionais, além de fazerem ações que possam reverter tal situação. No ano passado o Ronaldo Fraga fez esse post no instagram no dia da costureira, falando da importância dessas profissionais e do desfile da sua marca no SPFW com a coleção “ Descosturando Nilza”:
Assim como aconteceu com a minha mãe, a costura pode auxiliar na renda familiar, na emancipação financeira, na saída de contextos de vulnerabilidade e no fortalecimento da autoestima e de processos terapêuticos. Grupos como @mulheresdopolo ou @costurandosonhosbrasil atuam dessa forma e se você não conhece, vale a pena dar uma olhadinha.
Muitas pessoas não sabem, mas quando a gente compra uma blusinha barata demais, alguém está pagando por isso, e geralmente essa “conta” é cobrada por outras vias: às custas do meio ambiente e das pessoas que trabalham em condições extremamente precárias para suprir essa demanda por tendências e roupas baratas. Eu falei sobre as compras na Shein aqui, como um exemplo disso.
Quem precisa de costureira?
Todo mundo precisa do serviço de costureira, porque as roupas não são feitas sob medida como na época da Alta Costura (eu falei sobre a diferença entre alta costura e prêt-à-porter nesse texto aqui), mas algumas pessoas precisam mais que outras, por causa do tipo de corpo.
Eu que tenho 1,56m sempre preciso fazer bainha, por exemplo. Por usar roupas PP / 34 também faço muitos ajustes, pro caimento das peças ficar melhor no meu corpo.
Costureira no museu de Artes e Ofícios de BH
No réveillon desse ano, além de conhecer o Museu da Moda de Belo Horizonte eu fui ao museu de Artes e Ofícios, também em Belo Horizonte, e também tinha uma homenagem à costureira lá.
Eu não podia deixar de tirar uma foto e a minha admiração pela profissão, tanto por causa da minha mãe, quanto por entender a importância dessas profissionais na moda, e por isso resolvi falar sobre o dia da costureira aqui também.
Documentário falando sobre o valor da costureira
Um estudo da Oxfam apontou, em 2018, que em quatro dias um CEO de uma das cinco maiores marcas globais de moda recebe o que uma trabalhadora do vestuário de Bangladesh ganha durante sua vida toda.
Pra quem não sabe, Bangladesh foi onde aconteceu um dos maiores acidentes da indústria da moda, e virou documentário (“The True Cost” – o verdadeiro custo na Netflix ou no Youtube) e o motivo para acontecer a Semana Fashion Revolution desde 2014.
Vale muito a pena ver para entender mais sobre a moda e sobre o valor das roupas e do trabalho da costureira nos bastidores de todo o glamour que aparecem nas passarelas e vitrines.