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História da moda e o Coronavírus

No começo do mês eu visitei o Museu da Moda de Canela e contei nesse texto aqui tudo que eu aprendi e vi lá sobre a história da moda, e é claro que a moda também vai ser influenciada pelo Coronavírus de alguma forma e em algum nível.

Em tempos como o das grandes guerras e de Coronavírus, que atinge o mundo todo, é comum as pessoas dizerem que não dá pra pensar em algo tão “trivial” como a moda, já que as pessoas estão preocupadas em sobreviver, escondendo-se e vivendo em constante tensão e medo, e justamente por isso eu achei importante fazer uma relação entre a História da moda e o Coronavírus.

História da moda e o Coronavírus

Moda era a última das preocupações durante essas guerras, mas mas na realidade ela está atrelada à nossa história política e social, e períodos assim pediram por novas mudanças no modo de se vestir, e com o Coronavírus provavelmente não vai ser diferente, e por isto que é tão crucial contar essa história.

A ideia desse texto não é falar de tudo que aconteceu na história da moda, e nem aprofundar muito nos detalhes, porque isso me demandaria mais estudo e mais tempo (que apesar da quarentena, eu não tenho), mas sim pra mostrar que a moda está sempre acompanhando os grandes acontecimentos mundiais e que também tem a sua função social e grande importância.

A moda e a Primeira Guerra Mundial

A Primeira Guerra Mundial trouxe a escassez, a sobriedade, a austeridade, a tristeza às pessoas e, consequentemente, afetou a beleza e a moda.

Uma das coisas que eu vi lá no (MUM) foi a diferença entre os looks da Belle Époque, onde existia muito luxo e extravagância, e o período pós-Guerra (primeira guerra mundial, que aconteceu entre 1914 e 1918), por causa da escassez de mão-de-obra, de materiais e suprimentos e pela entrada da mulher no mercado de trabalho, o que causou muitas (e grandes) alterações nas formas de vestir, nas roupas, nos tecidos e também na produção das roupas.

Durante a primeira guerra mundial na Europa, houve recrutamento de mulheres para trabalhar em diversos setores, e as mulheres de classe mais baixa, sobretudo, foram exercer ofícios masculinos em fábricas, enquanto a classe média e as mulheres da alta sociedade foram convocadas para ajudar nas enfermarias, orfanatos e outros setores, para fazer serviços que exigiam menos esforço físico.

Isso mudou a forma de as mulheres se vestirem porque com a participação feminina no mercado de trabalho, tornou-se inevitável que as roupas as acompanhassem. Libertar o corpo feminino do espartilho e dos adornos decorativos era uma necessidade, porque o trabalho exigia o uso de roupas adequadas para o cumprimento daquelas atividades.

Essa mudança foi vista inclusive na paleta de cores, que antes era de cores exuberantes como o laranja; azuis fortes e brilhantes; vermelho ardente; tons de amarelo forte, dourado e verdes azulados (um período chamado Orientalismo, que não vi citado no Museu da Moda de Canela), foi substituída pelas cores mais neutras e pelo preto, que combinavam mais com o ar de tristeza, de luto e de austeridade que a época pedia.

As roupas utilitárias e com elementos militares passaram a vigorar nessa época por causa da sua praticidade, e em 1916, as bainhas subiram cerca de três ou quatro polegadas acima do tornozelo, tornando os calçados mais evidentes.

Nos momentos de maior escassez de matéria-prima (devido ao fechamento das fábricas e dificuldades de
importação de matérias primas e artigos industrializados) e dinheiro, os estilistas simplificaram os modelos: As blusas não tinham abotoamento, eram feitas de algodão ou seda, com modelagens práticas, sem muita elaboração e ornamentos, para serem usadas com saias (como o tailleur de Chanel, que era feito em jérsei). Os cardigãs de tricô também se tornaram importantes nesse período, e as revistas ensinavam as mulheres a fazerem peças de tricô em casa também.

A exposição “Fashion & Freedom” aconteceu em Londres para falar dos 100 anos pós primeira guerra e convidou uma série de nomes importantes da moda britânica, como Vivienne Westwood, Roksanda Ilincic, J JS. Lee, Holly Fulton e Emilia Wickstead, para criar peças que representam a transição do guarda-roupa feminino durante esse período. Veja esse vídeo falando um pouco mais sobre a exposição:

A história da moda depois da Primeira Guerra Mundial

Com o fim da guerra mundial a mulher não abandonou o trabalho e, começou a sua emancipação como a independência financeira, e em 1919, as mulheres constituíam 38% da classe operária do Brasil.

As roupas foram se adaptando a novos padrões, fossem eles para o trabalho, esporte e, principalmente, para o lazer, que voltava para a rotina de homens e mulheres nessa época.

Também foi em 1919 que Coco Chanel criou o “black dress”, um vestido preto de crepe com mangas compridas e justas. A ousadia da estilista se manifestou através da cor do vestido, já que na época o preto era pouco utilizado na alta-costura por ser um tom associado ao luto.

A moda no Brasil também sofreu influência da Grande Guerra nas roupas. Muito embora o país não estivesse efetivamente envolvido na guerra, por causa da supremacia da moda parisiense e a escassez de materiais, a moda e a forma de usar as roupas no Brasil seguiu o padrão de comportamento europeu e modificou-se junto com ele.

Moda durante a Segunda Guerra Mundial

A Segunda Guerra Mundial durou de 1939 a 1945 e também teve grande participação das mulheres nos campos de trabalho, mas a mão-de-obra ligada às confecções de roupas se tornaram limitadas, obviamente, e o período era de grandes restrições.

Quando começou o racionamento imposto pelo Governo, em 1941, não haviam cupons específicos para roupas, então eram utilizados os cupons de margarina. No início, a pessoas tinham acesso a 66 pontos (ou cupons) por ano. No final da guerra, em 1945, cada pessoa tinha acesso a apenas 24 pontos.

Para entender como era a situação, para comprar um casaco de lã mais pesado, eram necessários 18 pontos. Ou seja, se fosse em 1945, restaria apenas seis pontos pra comprar roupa pelo resto do ano. Para comprar um terno era necessário entre 26 e 29 pontos; um sapato entre 7 (mulheres) e 9 (homens) cupons; e crianças de 14 a 16 anos ganhavam 20 pontos adicionais, e por isso, toda compra precisava ser planejada!

Esse cartaz da época mostra a mesma roupa sendo usada durante o crescimento:

A escassez de tecidos fez com que as mulheres tivessem que reformar suas roupas e utilizar materiais alternativos na época, como a viscose e  tecidos sintéticos, que ajudou a democratizar a moda, já que a moda era feita para atender a todos os públicos, incluindo as operárias, e era considerada mais acessível e mais barata.

Durante a guerra, Inglaterra e Estados Unidos não podiam se inspirar nos estilistas parisienses, que tinham perdido sua liberdade de expressão e criação, além do fato de muitos tecidos não serem mais encontrados no mercado ou se tornado muito mais caros como a seda e a renda por exemplo.

Nessa época as roupas das parisienses se tornam mais pesadas, sérias, e as solas dos sapatos também. Calçados com sola de madeira começam a ser produzidos. É o período que os tamancos usados por Carmem Miranda fazem grande sucesso.

“Durante a guerra, o chamado “ready-to-wear” (pronto para usar), que é a forma de produzir roupas de qualidade em grande escala, realmente se desenvolveu. Através dos catálogos de venda por correspondência com os últimos modelos, os pedidos podiam ser feitos de qualquer lugar e entregues em 24 horas pelos fabricantes.
Sem dúvida, o isolamento de Paris fez com que os americanos se sentissem mais livres para inventar sua própria moda. Nesse contexto, foram criados os conjuntos, cujas peças podiam ser combinadas entre si, permitindo que as mulheres pudessem misturar as peças e criar novos modelos.
A partir daí, um grupo de mulheres lançou os fundamentos do “sportswear’ americano. Com isso, o “ready-to-wear”, depois chamado de “prêt-à-porter” pelos franceses, que até então havia sido uma espécie de estepe para tempos difíceis, se transformou numa forma prática, moderna e elegante de se vestir.” – Almanaque Folha

A Moda depois da Segunda Guerra

Paris foi libertada da Guerra em 1944 e a alegria invadiu as ruas da cidade. Em 1945, foi criada uma exposição de moda, com a intenção de angariar fundos e confirmar a força e o talento da costura parisiense.

Em 1947, o estilista francês Christian Dior, em sua primeira coleção, surpreendeu a todos com suas saias rodadas e compridas, cintura fina, ombros e seios naturais, luvas e sapatos de saltos altos. O sucesso imediato do seu “New Look” (como a coleção ficou conhecida), indicava que as mulheres ansiavam pela volta do luxo e da sofisticação perdidos, e se tornou o padrão da década que estava por vir.

A silhueta A, que foi inventada por Dior naquela época e ainda é usada até hoje, era uma forma de expressar a feminilidade que ficou escondida durante o guerra, e a delicadeza da Marilyn Monroe virou o ideal de beleza da época.

Nos anos 60, ageração pós-guerra ou geração “baby boomers” como é conhecida, utilizava a moda para demonstrar o seu estado de espírito, e a ideia era se desprender dos padrões comportamentais e de estilo de décadas anteriores: Tudo o que lembrava o autoritarismo dos anos de guerra era deixado de lado. Esse período é lembrado também por ter sido a primeira vez na história da moda que os jovens não se vestiam como seus pais, e apareceram itens como o jeans e a mini-saia no guarda-roupa feminino.

O coronavírus e a moda

É claro que o momento atual não é de Guerra, e apesar de todo medo e insegurança, e da quantidade de mortos (até o dia 24/03/2020, enquanto escrevia esse texto, já eram mais de 15 mil mortos no mundo todo, e 34 mortes no Brasil), eu só falei das guerras pra mostrar o quanto grandes acontecimentos que impactam a sociedade impactam a moda e a forma de consumir moda, mas pode ser que a gente esteja sim prestes a presenciar mais um passo na história da moda em breve.

A moda está cada vez mais democrática, e as regrinhas estão cada vez mais fora de moda. O meu trabalho como consultora de estilo é cada vez mais sobre dar autonomia e mostrar o poder de escolha para a cliente, e não de dizer pra ela o que é certo e errado, bonito e feio, e o que pode ou não usar.

As pessoas também estão, aos poucos, entendendo que dá pra ter poucas peças boas ao invés de ter muitas peças, e que a gente precisa comprar coisas que fazem sentido pra gente e não para fazer sentido para quem está vendo a gente.

Eu espero que a moda se torne mais consciente depois do Coronavírus, tanto pelos males que causa ao planeta quanto pelos males que causa para as pessoas (funcionários, especialmente), e espero que as pessoas mudem a forma de ver a moda e de usar a moda.

Por aqui, eu sempre incentivei o bom uso do dinheiro, falando sobre o consumo consciente. Sempre levei clientes para comprar em brechó e sempre dei dicas sobre como comprar bem (o último texto tá cheio de dicas para comprar bem online) e também sobre como usar ao máximo tudo que a gente tem no guarda-roupas, sem precisar comprar nada, só com técnica mesmo!

E se depois do Coronavírus você precisar da minha ajuda, me manda uma mensagem! Agora durante a quarentena tá tendo promoção para quem contrata a consultoria de estilo online, e a cliente já sai ganhando a análise de coloração online! Vamos?

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Priscila Citera

Apaixonada por pessoas e por moda, resolvi unir a Psicologia e 12 anos de experiência em recursos humanos com a formação em Consultoria de Estilo pela Oficina de Estilo, e desde 2014 ajudo mulheres e homens desse mundão todo a transformarem personalidade em looks e roupas em representação da personalidade, sem que eles precisem gastar muito!