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O que as marcas ganham com a padronização das medidas?

A luta pela padronização das medidas das roupas femininas no Brasil é bem antiga, e no final do ano passado a ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) aprovou a nova norma NBR 16933, com medidas que vão além das letras, P, M, G e a expectativa era que ela entrasse em vigor ainda em 2022 (que já está chegando ao fim).

Nesse texto aqui eu falei sobre alguns dos problemas que as minhas clientes da consultoria de estilo relatam ao comprarem as roupas (e que eu vejo na etapa de compras) e sobre a importância da aprovação da padronização da numeração das roupas.

Mas, antes de contar o que as marcas ganham com a padronização das medidas, vou explicar porque as marcas ainda não tem tamanhos padronizados.

Porque as marcas não tem tamanhos padronizados?

De vez em quando eu trago algumas curiosidades sobre a história da moda aqui no site, que ajuda a gente a entender porque a moda é como a gente vê hoje, e também explica alguns dos maiores problemas, como a falta da padronização das medidas.

A partir das revoluções industriais no século XVIII, a Indústria Têxtil se desenvolveu e passou a produzir roupas em larga escala no século seguinte. Para que isso acontecesse, foram realizados estudos antropométricos para que a indústria do vestuário tivesse as primeiras grades de tamanhos de roupas.

Esse tipo de produção cresceu após a Segunda Guerra Mundial e, com o conceito de prêt-à-porter  (que é basicamente o conceito de roupa pronta para vestir), grandes marcas passaram a democratizar as suas criações, impulsionando a Moda com produtos com mais qualidade e também mais variedade de estilos.

Apesar de ter um referencial de tamanhos do corpo humano, cada confecção produzia suas peças a partir de medidas que entendiam ser o padrão. Ou seja, não havia um critério universal. Isso mudou em 1969, quando a Organização Internacional para Padronização (ISO, na sigla em inglês) determinou que cada país deveria se basear nos biótipos nacionais para padronizar as suas medidas.

Em 1995, foi publicada a ABNT NBR 13.377:1995 – Medidas do corpo humano para vestuário – Padrões referenciais, que anos depois seria revisada e substituída por novas normas, com medidas femininas, masculinas e infantis separadamente.

Na semana passada eu dei uma entrevista ao portal Terra para falar sobre o assunto e você pode ler clicando nesse link aqui.

O que a nova norma da ABNT sugere?

Os hábitos e o estilo de vida, assim como os formatos e medidas do corpo dos brasileiros tiveram uma mudança significativa desde a norma técnica da ABNT de 1995 para confecção de vestuário.

Surgiu, então, a necessidade de novos estudos para atualização dos dados antropométricos, fazendo uso de tecnologias mais avançadas para obter referenciais muito mais fiéis às características reais do perfil dos brasileiros.

Dessa forma, além das informações do tamanho, a nova norma da ABNT sugere que as etiquetas das roupas passem a ter também medidas corporais de referência sobre as quais determinada peça foi feita, de acordo com as proporções de biótipos.

O que as marcas ganham com a padronização das medidas?

Quem não trabalha com moda fica pensando nos motivos que levam as marcas a não terem uma numeração padrão, e até eu, que sou consultora de estilo, acho difícil explicar porque os tamanhos variam tanto de loja pra loja – e muitas vezes dentro da mesma marca.

Mas, a maior razão de as pessoas não encontrarem roupa na sua numeração é o fato de as marcas ainda não trabalharem pensando nos corpos com proporções não contempladas pela maioria das tabelas de medidas atuais, já que estão presas em padrões ultrapassados.

Mas, a verdade é que se a ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) conseguir colocar a norma NBR 16933 em vigor, e normalizar os tamanhos com base em estudos antropométricos sobre as medidas corporais da sociedade (que servem como referência para a indústria do vestuário), as marcas também vão ser beneficiadas.

Veja o que as marcas ganham com a padronização das medidas:

Facilita o processo de modelagem

A modelagem da roupa é uma das coisas que mais impacta visualmente e na qualidade da peça, e fazer um novo molde (peça piloto) a cada nova coleção é trabalhoso e gera custos desnecessários para as marcas.

Ter um molde padrão para cada tipo físico otimiza o processo, porque a tabela de medida apresenta informações completas e proporções corretas e bem planejadas para os diferentes biótipos e ajuda numa gradação (a variação de tamanhos) mais fácil e ágil, com mais qualidade no resultado final.

Reduz o desperdício de materiais

A moda é uma das indústrias que mais polui no mundo, e ter uma tabela de medidas padronizada ajuda na redução de resíduos e no desperdício de materiais, porque é possível garantir uma menor taxa de erros e retrabalhos, tornando o processo produtivo na moda muito mais sustentável desde a peça-piloto.

Facilita o processo de compra

A maioria das pessoas que contrata a consultoria de estilo não sabe ou não gosta de comprar roupas, e o problema com a numeração é um dos maiores motivos.

Além de as pessoas não terem paciência para procurar roupas que gostem, experiências anteriores ruins fazem com que elas pensem que nada vai funcionar no corpo, ou não vai ter a numeração. Muitas pessoas não se sentem à vontade para pedir ao vendedor para experimentar numerações diferentes, tanto por medo de incomodar / atrapalhar / ocupar o tempo deles (é o que a maioria das minhas clientes relata), quanto por vergonha de dizerem que a roupa não serviu.

Tendo como referência as medidas e o formato do corpo, o processo de compra fica muito mais fácil e evita frustrações.

Reduz o tempo no provador

Quem me acompanha no instagram já deve ter visto que em dia de etapa de compras eu fico cerca de 10 a 12 horas no shopping, já que eu chego antes da cliente para separar as peças para ela experimentar e otimizar o tempo dela.

Ainda assim, dependendo do tipo de corpo da cliente e do tipo de roupa que ela precise, o tempo no provador é mais longo, já que a gente pode precisar experimentar mais de um tamanho ou de uma modelagem das peças, até encontrar uma que funcione.

Quando a cliente vai fazer compras sozinha esse processo é ainda mais demorado, já que, sem as técnicas que eu tenho, muitas vezes ela não consegue identificar onde está o problema da peça e qual a melhor opção para substituir aquela escolha.

Com a padronização das medidas, o vendedor já consegue evitar as frustrações da cliente, e a cliente já se sente menos intimidada a entrar nas lojas, porque sabe que não vai correr o risco de experimentar um monte de coisas e não encontrar uma peça do tamanho que ela precisa.

Diminui a quantidade de devoluções e trocas

Facilitar o processo de compras leva a um outro benefício para as marcas, que é reduzir a quantidade de peças devolvidas (no caso de compras pela internet) e as trocas, já que o tamanho errado é um dos maiores motivos da logística reversa.

Eu falei um pouco sobre o processo de logística reversa (troca e devolução) nesse vídeo aqui, lá no instagram.

Diminuir o tempo de provador também ajuda a reduzir as trocas, porque como a maioria das pessoas não experimenta as peças na hora de comprar e só percebem que a peça não ficou boa quando chegam em casa, se esse problema é eliminado, a cliente vai se sentir estimulada a experimentar, e comprando uma peça do tamanho certo, não precisa fazer a troca depois.

Fideliza os clientes

Quando a gente tem uma experiência ruim com uma marca, é comum a gente não consumir mais nada lá, e o mesmo acontece quando a experiência é boa.

Se eu indico uma loja para as minhas clientes na etapa de compras e elas gostam da modelagem e do jeito que as peças vestem o seu corpo, elas passam a comprar nessa marca depois que a consultoria de estilo acaba, porque sabem que vão encontrar peças do seu estilo e que valorizam o seu corpo.

Identificação do público alvo

Assim como as marcas de moda petite e plus size produzem peças com uma modelagem diferenciada pensando nas necessidades do seu público alvo, que é mais específico, as outras marcas também podem ter informações mais assertivas sobre quem é o seu público alvo para cada tipo de roupa, e que tamanho de roupa vende mais e qual tamanho vende menos.

Torna a moda mais democrática e inclusiva

Como eu falei das marcas plus size, vale a pena citar que é muito comum que as mulheres que vestem uma numeração maior não consiga comprar as roupas que elas veem nas vitrines e no corpo de suas amigas com um corpo padrão, porque as marcas não tem uma grade que contemple todos os tipos de corpo.

A padronização das medidas vai ajudar a democratizar o acesso à moda, para que pessoas com todos os tipos de corpos e tamanhos consigam comprar o que gostam. Para isso, é importante que as confecções tenham como base os mais recentes estudos antropométricos (o campo da antropologia física que estuda as dimensões do corpo humano), como o da ABNT.

A consultoria de estilo e a padronização das medidas

Como eu falei no começo do texto, na semana passada eu dei uma entrevista ao portal Terra para falar sobre o assunto (você pode ler a matéria clicando nesse link aqui), e uma das coisas que eu falei foi que eu espero ainda estar trabalhando como consultora de estilo quando a padronização das medidas entrar em vigor, porque muito do meu trabalho é gasto procurando a marca que vai atender melhor à cada cliente.

Em resumo, ao responder o que as marcas ganham com a padronização das medidas, acabei mostrando que todo mundo vai ganhar. Que seja logo!

 

 

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Priscila Citera

Apaixonada por pessoas e por moda, resolvi unir a Psicologia e 12 anos de experiência em recursos humanos com a formação em Consultoria de Estilo pela Oficina de Estilo, e desde 2014 ajudo mulheres e homens desse mundão todo a transformarem personalidade em looks e roupas em representação da personalidade, sem que eles precisem gastar muito!