Eu sempre falo que ser psicóloga é o meu grande diferencial no atendimento às clientes da consultoria de estilo, porque é o feedback que eu mais recebo nesses 7 anos e meio, e porque eu realmente acredito que a psicologia me ajuda muito no processo. No texto de hoje (27 de agosto), que é dia do psicólogo, eu vou falar da relação entre psicologia e consultoria de imagem pra vocês entenderem melhor como eu vejo isso.
Mas antes, eu vou falar da relação da psicologia com a moda, que é uma coisa anterior à consultoria de imagem.
Psicologia e moda
Desde muito antes de pensar em trabalhar como consultora de estilo eu já me interessava por moda, e trabalhando em Recursos Humanos, eu sabia o quanto era importante cuidar da nossa imagem pessoal, e por isso não demorou pra eu ver relação entre psicologia e consultoria de imagem.
Apesar de a gente encontrar referências à Psicologia à Moda no século XIX, nos estudos de William James (considerado um dos pais da psicologia moderna), autor de “Os Princípios de Psicologia” (1890), infelizmente, quando eu fiz faculdade (eu me formei em Psicologia em 2010) não tinha uma disciplina que falasse sobre moda, assim como tem psicologia do esporte, psicologia escolar, psicologia jurídica e outras disciplinas que falam de diferentes campos de atuação do psicólogo. Inclusive, no Brasil a Psicologia da moda nem é reconhecida pelo Conselho Federal de Psicologia como uma área de atuação.
Mas, nesses 7 anos e meio de atuação, eu corri atrás desse conhecimento fora da faculdade, através de cursos e livros, e embasamento científico que me ajudasse a diferenciar o meu atendimento pra além da renovação do guarda-roupas das clientes.
William James demonstrava interesse pelos aspectos auto expressivos que via na sua forma de se vestir – e nas roupas de outras pessoas. Para ele as roupas constituem parte essencial do eu material e influenciam também o eu espiritual e o eu social (WATSON, 2004) – e eu também acredito nisso.
Essa perspectiva que ele tinha sobre o vestir foi influenciada pelo texto “Filosofia do Vestir” que está na obra “Microcosmos” (1885) de Hermann Lotze, onde ele defende que tudo que o homem coloca sobre seu corpo, cada elemento, se torna parte de si mesmo. O look criado pelo seu modo de se vestir combina e é, dessa maneira, reflexo da sua essência.
“Nem na alfaiataria nem na legislação, o homem procede por mero acidente. A mão é sempre guiada por misteriosas operações da mente. Em todos os seus modos e empreendimentos habilidosos, uma ideia Arquitetônica será encontrada à espreita. Seu corpo e o tecido são o lugar e o material sobre os quais o seu belo edifício, de um pessoa, deve ser construído.” – CARLYLE, 1836 In WATSON, 2004)
Mas, de lá pra cá muita coisa evoluiu e já existem outras profissionais falando sobre a relação entre a psicologia e consultoria de imagem, desde a relação da cliente com a sua autoestima, até a sua imagem corporal e comportamento de consumo. A maior referência, pra mim, é a Dawn Karen.
Dawn Karen e a Fashion Psychology
Dawn Karen é Psicóloga e passou cerca de um ano viajando ao redor do mundo realizando pesquisas e estudos de caso, unindo a sua experiência como modelo aos seus conhecimentos da Psicologia.
Nesse período ela estudou, principalmente, os componentes culturais do vestir e quais as influências de normas culturais na forma de a gente se vestir e como isso afeta as nossas emoções e comportamentos.
Depois dessa pesquisa, Dawn Karen voltou à Nova Iorque e criou o Fashion Psychology Institute que é responsável pela formação de outros psicólogos em “Fashion Psychology” ao redor do mundo. Ela também é professora no FIT (Fashion Institute of Technology) em Nova Iorque, que é uma das maiores referências mundiais em formação na área de moda, e também presta consultorias.
Em 2017 Dawn palestrou para o TEDx Talks, contando sobre como desenvolveu o “Fashion Psychology” e a sua pesquisa ao redor do mundo. Você pode ver um pedaço dessa palestra nesse vídeo aqui:
Cognição indumentária
Outros psicólogos também vêm contribuindo para o fortalecimento da área, e a Karen J. Pine, que é PhD em mudança comportamental e professora de Psicologia na University of Hertfordshire, em Londres publicou vários estudos sobre o efeito do vestir na postura corporal (GURNEY et al, 2017), a influência das roupas na primeira impressão (HOWLETT et al, 2013), e comportamento de consumo (PINE; FLETCHER, 2011).
Karen também é a autora do livro “Mind what you wear: the psychology of fashion” (sem tradução para o português), onde aborda a noção de cognição indumentária. Eu também já falei sobre cognição indumentária lá no instagram.
Cognição indumentária é um termo usado para falar sobre a forma como nos vestimos afeta a forma como nos vemos, como pensamos e como nos comportamos – e que influencia a forma como nos relacionamos com o mundo também!
Segundo resultados de pesquisas, essa influência acontece a partir de dois fatores independentes: o significado simbólico das roupas e a experiência física de usá-las (e ambos podem variar de pessoa pra pessoa).
Além do meu vídeo lá no instagram, você pode entender melhor o conceito vendo esse vídeo aqui, que é bem didático e engraçado:
Consultoria de imagem não é terapia
Apesar de eu ser psicóloga e usar muitos conhecimentos da psicologia no atendimento, é importante deixar claro que a consultoria de imagem não é terapia e nem substitui a terapia para cuidar da autoestima e questões de insegurança, crenças limitantes ou distorções de imagem, por exemplo.
Todo mundo deveria cuidar de sua saúde mental e emocional, para garantir um sentimento de segurança e autoestima fortalecida. Esse processo é complexo e trabalhoso, e assim como não é resolvido em definitivo e completamente na terapia, a consultoria de imagem também não é a solução. Mas, um processo pode ajudar o outro e potencializar os resultados!
Eu falei lá no instagram sobre coisas que a psicologia e consultoria de imagem têm em comum, e você pode clicar aqui pra ler e complementar esse texto.
Como a psicologia ajuda na consultoria de imagem?
A Psicologia me ajuda a ter mais empatia, uma escuta mais ativa e fazer uma investigação mais aprofundada das demandas e medos da cliente. A gente passa por todas as etapas da consultoria de estilo, incluindo análise de coloração pessoal, revitalização do guarda-roupas, etapa de compras (personal shopping) e montagem de looks, mas diante do resultado, isso é apenas a parte visível do processo, apenas um acabamento. A grande transformação acontece mesmo antes do fim do processo e vai além disso tudo!
A nossa personalidade, a auto percepção da nossa imagem, as pessoas com quem nos relacionamos e como nos relacionamos com elas são os principais fatores que impactam (de forma positiva ou negativa) a nossa relação com a moda, nossas decisões de compra e a forma como nos apresentamos para o mundo.
Também lá no instagram eu falei sobre o exercício de referências que eu faço com as clientes, para que eu consiga entender como elas se sentem, como gostariam de se sentir e como gostariam de ser vistas. Dessa forma eu consigo examinar as emoções e os processos mentais que levam as pessoas a se vestirem da forma como se vestem, e que experiências e resultados gostariam de ter a partir da forma como se vestem.
Quando a gente se veste de acordo com a nossa percepção do que é importante pra gente sentir e transmitir para as outras pessoas, o processo vai além da mudança na forma de se vestir, e por isso eu sempre digo que consultoria de estilo é mais que roupa: é uma forma de mudar a nossa percepção da realidade e mudar a nossa realidade através da nossa percepção!
Se você gostou da forma como eu falo do meu trabalho e quiser a minha ajuda com a sua imagem pessoal, me manda uma mensagem por aqui!