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O conceito de “roupa decente” no dress code da Alesp

O ano é 2023 e um grupo de parlamentares de direita e considerados da ala mais radical da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) tem sugerido em plenário e em reuniões que a Casa defina regras para que as deputadas estaduais usem o que eles consideram “roupa decente” em Plenário.

O artigo 286 do Regimento Interno da Alesp define que “as deputadas e deputados deverão comparecer às Sessões Plenárias da Assembleia Legislativa, bem como às Sessões das Comissões Permanentes e Parlamentares de Inquérito, decentemente trajados, vestindo os parlamentares do sexo masculino terno e gravata” e que se não cumprirem as regras, deputados e deputadas não poderão permanecer no plenário. Não há detalhes sobre o tipo de roupas que devem ser usadas pelas parlamentares mulheres, e por isso a abertura da discussão sobre o conceito de roupa decente.

O dress code para mulheres na política

Não é a primeira vez que eu falo aqui que moda também é sobre política e trago exemplos de casos que aconteceram envolvendo mulheres na política, justamente porque eu concordo que deva existir um dress code e que ele seja seguido, mas discordo da forma como é feita quando se trata das mulheres.

Nesse texto aqui, de 2019, eu falei sobre a polêmica que rolou por causa do decote da deputada Ana Paula da Silva, que não foi considerado uma “roupa decente”, mesmo tendo sido um look usado para a sua posse, ou seja, um “look de festa”.

Ainda nesse texto eu comentei que esse look não foi reprovado por estar fora do dress code (que, como eu falei lá em cima, não define o que significa estar decentemente vestida), e sim porque é uma mulher ocupando um espaço masculino e mostrando autoestima e poder sobre o seu corpo e as suas escolhas.

Pra provar a minha teoria, mostrei o também deputado Amauri Ribeiro usando chapéu (que não é permitido pelo regimento da Assembleia Legislativa) nessa mesma cerimônia de posse em Santa Catarina (e com a sua mulher, Cristhiane, sentada no seu colo).

A deputada Ana Paula da Silva usa decote em outros momentos de trabalho na Assembleia, mas em pleno 2023 ainda vamos discutir sobre roupa decente ser diferente de roupa com decote?

Consegue ver que não é sobre roupa, e sim sobre sexismo e controle do corpo feminino? Se só é errado pra mulher, se só é assunto no caso de mulheres, o nome disso é machismo.

Um outro caso que fere o dress code é o ex-presidente Bolsonaro, que apareceu em foto oficial usando camisa falsificada (que inclusive entra no crime de pirataria) e chinelo. Isso é considerada uma roupa decente?

Outro caso que eu comentei aqui e lá no instagram foi sobre a crítica sobre a roupa da vereadora Camila Valadão (segunda vereadora mais votada entre os 15 vereadores eleitos para a atual legislatura no Espírito Santo).

O caso, que aconteceu em 2021, quando o parlamentar Gilvan da Federal (que também é da direita bolsonarista) afirmou que a blusa assimétrica vermelha, que deixava um ombro e um braço à mostra não estava adequada de acordo com o dress code da Câmara de Vitória (que também não fala de roupas específicas).

Na mesma situação, ele disse que “quem quer respeito, se dá o respeito”, num argumento clássico do machismo. E foi além, criticando o uso do adesivo escrito “Fora Bolsonaro, pela vida das mulheres” na sua blusa, dizendo que também era algo proibido – enquanto usava uma máscara com a cara do presidente!!!

Hipocrisia que fala, né? Você pode ler o que eu falei sobre esse assunto nesse texto aqui.

O dress code da Alesp

O programa Morning Show (da Jovem Pan, que também é de direita) recebeu essa semana a deputada estadual Solange Freitas (União Brasil-SP) para falar sobre a criação de um código de vestimenta para as parlamentares da Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo) e argumentou que a iniciativa veio após presenciar assessoras com a “barriga de fora”.

“Infelizmente, nem todos seguem, nem todos têm o bom senso. Por isso a gente precisa de um código de vestimenta. Discutir isso é porque a polêmica veio, mas infelizmente houve situações que chateou parlamentares, inclusive numa reunião em que tivemos um congresso de comissões.

Nesse dia, duas assessoras estavam com a camisa amarrada e a barriga de fora. Isso chateou alguns parlamentares. Nós estávamos discutindo aumento salarial e duas assessoras estavam com a blusinha amarrada, e aí elas deram um nózinho”, explicou.

Roupa adequada é diferente de roupa decente

Para concluir, gostaria de deixar claro que como consultora de estilo desde 2014 e com 12 anos de experiência em Recursos Humanos eu sou super a favor de obedecer ao dress code – desde que ele não seja uma ferramenta usada para fomentar o machismo, com preconceitos sobre o que é uma roupa decente ou não, que imputa valor às mulheres, de acordo com a régua de quem faz essa análise – e que eu provei aqui que não é, nem de longe, a mais indicada!



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Priscila Citera

Apaixonada por pessoas e por moda, resolvi unir a Psicologia e 12 anos de experiência em recursos humanos com a formação em Consultoria de Estilo pela Oficina de Estilo, e desde 2014 ajudo mulheres e homens desse mundão todo a transformarem personalidade em looks e roupas em representação da personalidade, sem que eles precisem gastar muito!