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Você não precisa ser elegante

Nove em cada dez consultoras de imagem e estilo dão dicas sobre “como ser elegante” todos os dias na internet, e quando olho a quantidade de seguidores, comentários e curtidas lá no instagram eu fico me questionando:

  • por que as pessoas querem tanto (ou acham que precisam) se vestir de forma elegante?
  • por que as consultoras de estilo em geral acham que todo mundo quer ser elegante?
  • por que as pessoas acham que só existe uma forma de ser elegante?

Então, se você chegou a esse texto atrás de dicas, continua aqui, porque apesar de eu achar que você não precisa ser elegante, eu vou te ajudar a entender se você realmente precisa, e te explicar que existem várias formas de se vestir pra comunicar elegância.

O que é ser elegante?

Antes de falar qualquer outra coisa pra você entender que você não precisa ser elegante, vale a pena começar explicando que existe a elegância comportamental (quando a pessoa age de forma elegante ou é uma pessoa elegante na maneira de ser) e a elegância na maneira de se vestir, que é um dos sete estilos universais, conhecido como o estilo elegante.

Como a minha área de trabalho é o estilo (apesar de eu também ser psicóloga e adorar falar / estudar o comportamento humano), nesse texto eu vou falar do estilo elegante, e não de etiqueta, da elegância no comportamento, com dicas sobre como usar os talheres, por exemplo.

O estilo elegante

O estilo elegante é o mais sofisticado dos sete estilos universais, e as pessoas que se identificam com esse estilo são bem exigentes com o material e o acabamento das peças – e também se preocupam com a opinião alheia (aquela vontade de parecer adequada e estar “fazendo a coisa certa” mesmo em situações que não exigem dress code, sabe?).

A elegância no vestir tem a ver com impecabilidade, com estar usando peças com “cara de coisa boa” e com sofisticação. E aqui é que entra o meu primeiro questionamento / ponto sobre todas as dicas serem a respeito das mesmas peças, cores, modelagens, tecidos e combinações: Se ser elegante é parecer estar usando coisas boas, impecáveis e sofisticadas, não dá pra ser elegante usando uma boa calça jeans e uma camiseta de malha bem feita? Claro que dá! Aliás, dá pra ser elegante mesmo se o seu estilo pessoal não for o estilo elegante, e eu explico isso para as minhas clientes da consultoria de imagem e estilo o tempo todo, desde 2014!

você não precisa ser elegante

E talvez, ao olhar para essas fotos da Gisele Bundchen e a Kamala Harris usando jeans e camiseta você não ache que elas estão elegantes. E isso acontece tanto pelo conceito que a gente tem de elegância quanto para o fato de a intenção delas não era parecer elegante nessas situações – porque ser elegante não é uma opção pra todo mundo e nem em todas as situações! Entende? Você não precisa ser elegante, e também pode querer parecer elegante só em algumas situações / lugares também!

Elegante não é a mesma coisa que clássico

Quando eu falo do conceito de elegante eu estou falando de senso comum, o que a maioria das pessoas fala e reforça quando o assunto é ser elegante: é sempre sobre usar alfaiataria, cores neutras, pouca estampa e acessórios de materiais nobres (jóias verdadeiras, semijóias ou bijuterias finas) e minimalistas, resultando num look sóbrio e quase clássico.

Também é importante dizer que esse conceito de elegância que é espalhado na internet é inspirado no estilo europeu (que nem representa o estilo de todas as européias, porque elas também são pessoas diferentes e têm estilos e necessidades diferentes), onde a cultura, o clima e o salário das pessoas é bem diferente do Brasil. Esse conceito de elegância é descolado da realidade, classista e elitista. O Brasil é colorido, informal, criativo, alegre… e QUENTE!!! A gente não precisa usar blazer o tempo todo. A gente não precisa querer parecer européia se nem elas são todas iguais!

estilo elegante

O estilo clássico também é mais formal que o elegante, que ousa um pouco mais nas modelagens. A mulher elegante tem uma pitada cosmopolita, e vai “se permitir” usar um blazer oversized para acompanhar a moda, ou numa cor que seja tendência – mas sempre em tecidos mais nobres como a seda, a lã e o linho, e de preferência num look monocromático (ou no máximo, um tom sobre tom). É no detalhe que está a elegância do estilo elegante!

Para ser elegante, a impecabilidade das peças também precisa estar na pessoa, incluindo cabelo, unhas e maquiagem. E também vai além da imagem, né? A elegância está no tom de voz e no que a pessoa fala, no seu comportamento e nos seus valores. Não adianta usar um blazer caro e bem feito e tratar mal o porteiro e o garçom!

Então, agora que já apresentei o estilo elegante e as suas características / exigências, vamos ao meu ponto: por que a gente tem que parecer elegante?

Você não precisa ser elegante! Por que teria?

Eu não trabalho com os sete estilos universais na minha consultoria de imagem / consultoria de estilo, porque é uma teoria criada em 1980 / 90 nos EUA com base no estilo de mulheres de classe alta daquela região (e além de ser antiga, também não é tão universal como o nome propõe).

Mas essa teoria serviu de base para muitas coisas quando o assunto é imagem pessoal – inclusive a teoria das prioridades no vestir (prioridade de alma e de vida, que eu uso no meu trabalho), e se a gente pode parecer criativa, sexy, confortável, moderna / dramática, por que a maioria das consultoras de estilo se veste de forma elegante e ensina a ser elegante na maior parte dos posts do instagram e na internet em geral, como se fosse a única forma certa de se vestir?

Basta uma pesquisada no Google para entender que a maioria das pessoas quer parecer elegante ao invés de passar outras mensagens de estilo:

desejo de imagem - como parecer elegante

Você não precisa ser elegante, mas tem muita gente que quer te provar o contrário – pra você se sentir sempre inadequada e infeliz com a sua imagem, já que essa imagem elegante que é “vendida” não é acessível pra todo mundo.

A mensagem que essa imagem elegância passa não é sobre elegância, e sim sobre sucesso, status social e estilo de vida, que não vêm junto com o blazer que você compra na Shein.

As mensagens que um look elegante transmite

Como as palavras-chave desse estilo são a impecabilidade e a sofisticação, a mensagem principal que um look elegante transmite é de alguém que se preocupa com o seu visual e quer o melhor pra si mesma, estando sempre bem arrumada e com peças de qualidade.

Além disso, as cores neutras, as peças clássicas, o tecido de alfaiataria e o material nobre juntos no mesmo look vão passar uma mensagem de mulher séria, madura, bem sucedida e chique. Sabe quem também é uma mulher séria, madura, bem sucedida e chique? A Michelle Obama! E nesse texto aqui eu mostro que ela consegue parecer elegante fora desses padrões, usando modelagens, cores e estilos diferentes, pra mostrar que você também pode sair dessa caixinha!

elegante como a Michelle Obama

E existem vários outros exemplos de mulheres que transmitem seriedade, maturidade e elegância sem estar sempre com cores neutras + peças clássicas + alfaiataria + salto alto num monocromático. Entre as mulheres mais criativas, posso citar a Olivia Palermo, mas se você buscar por “Olivia Palermo elegante” no Google ou no Pinterest, provavelmente não vai aparecer looks como esses:

looks Olivia Palermo

Nesses looks têm acabamento perfeito, tem materiais nobres e sofisticados, mas também têm cor, tem textura, tem estampa, tem muita informação de estilo e personalidade, o que passa uma mensagem mais criativa, mais informal, mais jovem.

E aqui entra a minha segunda dúvida sobre esse assunto: Será que a elegância desejada tem a ver com o machismo estrutural da nossa sociedade? Será que esse desejo por parecer elegante não tem a ver com a necessidade de parecer séria (como mulher ou profissional, ou os dois) para ser respeitada?

Quando vejo essas dicas sobre como ser elegante na internet, eu só consigo pensar em um homem branco europeu bem sucedido, de terno, ou no máximo uma mulher branca européia, de blazer. Nossa cultura e nosso senso de beleza e de “certo e errado” ainda é eurocentrada. Parece que a “bíblia do estilo” é o livro “os segredos do guarda-roupa europeu” ou “como ser uma parisiense em qualquer lugar do mundo”.

estilo parisiense elegante

Tem alguma coisa de errado em se vestir assim? Não! No meu ponto de vista, o que está errado é:

  • as consultoras de imagem e estilo falarem sobre o estilo elegante como ele se fosse “o certo”, a única forma de se vestir, e fazer as pessoas consumirem mais e se sentirem inadequadas,
  • você não se questionar porque quer parecer elegante – ou não entender e aceitar se manter no automático, sendo conduzida por outras pessoas.

Então, quando uma cliente me procura dizendo que quer parecer elegante, eu não presumo que ela queira se vestir assim (porque isso o próprio google já dá como dica generalista, numa busca rápida), e o meu trabalho é focado naquela pessoa que estou atendendo – que é diferente de todas as outras que eu já atendi desde 2014. É muito importante saber que existem várias formas de parecer elegante, que vão além de cores, formas e tecidos específicos.

Cada pessoa pode parecer elegante de uma forma diferente, de acordo com a sua rotina e personalidade. Imagina precisar usar blazer todo dia no calor do Rio de Janeiro? Ou ter uma personalidade super criativa e ousada mas um guarda-roupas todo cheio de cores neutras e peças clássicas porque é errado você ser diferente?

Conceito de elegância: O que é ser elegante?

Eu ia começar esse texto falando do que é ser elegante de acordo com o dicionário, mas achei que nesse ponto do artigo ia ficar mais interessante.

  • Que tem elegância, distinção na forma de vestir e de se portar: traje elegante; aparência elegante; comportamento elegante.
  • Definido por ser harmônico, leve, natural.
  • De movimentos graciosos, gosto requintado, senso estético primoroso.
  • Que expressa fineza, gentileza, educação; gentil, gracioso, educado.
  • Que se comporta corretamente, com retidão moral e ética; honrado.

Também podemos pensar nos sinônimos de elegante: fino, chique, refinado, sofisticado, requintado, seleto.

Sem dúvida nenhuma são conceitos interessantes e qualidades que qualquer pessoa gostaria de ter, mas não existem só essas formas de passar essa mensagem / imagem. Por isso mesmo, algumas consultoras de imagem e estilo / blogueiras de moda já falam de dicas para “parecer elegante sem salto”, “ficar elegante usando jeans”, etc.

Eu não quero parecer elegante

Na hora de me vestir, a minha intenção não é parecer elegante, e sim pensando no que é importante pra mim, nas minhas prioridades: de alma (minha essência / personalidade / estilo – no porque eu uso ou gosto dessas peças) e de vida (minha rotina / corpo / estação do ano – em como e onde usar essas peças).

Muita gente quer parecer elegante, mas eu quero parecer confortável e criativa. E apesar de ter um conceito / senso comum do que seja confortável e do que seja criativo quando o assunto é estilo pessoal (e você talvez não me achar criativa, por ter um conceito diferente de criatividade), eu me visto de acordo com os meus critérios – por isso estilo tem muito de autoconhecimento.

Eu falo de um exercício que faço com as clientes para entender essas referências nesse post aqui, que pode te ajudar a pensar sobre o que te atrai no estilo elegante. Será que você realmente quer usar blazer e scarpin todos os dias, ou quer ter os resultados, o estilo de vida e o status que essas mulheres parecem ter?

referências de estilo

Tem gente que quer parecer sexy, tem quem queira parecer moderna. Mas, existem níveis diferentes de criatividade, de sensualidade, de modernidade, de conforto… esses conceitos podem variar bastante de pessoa pra pessoa. Então, porque a elegância também não tem níveis diferentes e você só pode ser visto como elegante ou “não elegante”?

Conclusão: Vista quem você é

Uma das hashtags que eu mais uso lá no instagram é a “#vistaquemvocêé”, que é o nome do livro da Oficina de Estilo, onde me formei em 2014, porque é nisso que eu acredito, que a gente se veste (ou deveria se vestir) de quem a gente é.

Nesse texto aqui eu falo sobre como se vestir para uma entrevista de emprego, porque também nesse assunto sempre indicam “camisa branca, calça social preta, poucos acessórios” como sendo o look ideal, sem considerar as competências que o cargo ou área de atuação exigem, e muito menos o seu estilo e a sua personalidade, pensando apenas em fazer a pessoa parecer elegante – que não é a característica mais importante na hora de avaliar um candidato (eu falo isso por causa dos meus 12 anos de experiência em Recursos Humanos), e também não deveria ser a característica mais importante pra gente mostrar na hora de expressar nossa personalidade nos nossos looks em geral.

Então, na hora de pensar em parecer elegante, veja se realmente faz sentido pra você, e se é a sua característica mais importante, se é como você quer ser vista / reconhecida e se sentir. E depois, experimente outras opções além dessas fórmulas prontas. Vai dar mais trabalho no começo, mas vale a pena. Eu juro!

E se você quiser minha ajuda pra entender melhor o seu estilo e a sua forma de parecer ou se sentir elegante de uma forma menos pasteurizada, me manda uma mensagem por aqui que eu te conto como que é o meu processo de consultoria de imagem e estilo!

6 comentários

  1. Amei as suas colocações e assino embaixo. Sou artista plástica e acredito que a roupa escolhida deve conter/transmitir a nossa identidade pessoal.

    Adorei as suas colocações e assino embaixo!
    Sou artista plástica e entendo o ato de se vestir como uma forma de auto expressão, uma identidade visual.

  2. Gostei muito da contribuição do seu artigo Priscila. Apesar de ser homem, eu estava vivendo exatamente esse dilema em ter que parecer elegante/sofisticado. E nesses últimos dias procurei me perguntar porque eu estava com essa necessidade. Seria para ouvir aplausos e elogios das pessoas? Queria eu ficar escravizado da dependência desses elogios ou que me notassem? Creio que trazemos muitos conflitos durante a vida e que felizmente a maturidade o auto conhecimento e a individuação vão nos libertando. E nesse processo conhecer a si próprio e vestir-se de acordo é sensacional! Parabéns novamente! Gratidão 🙏🏼

  3. Excelente! Estou iniciando minha carreira como consultora de moda e estilo e seu texto condiz muito com meu pensamento sobre o tema é irei seguir essa linha. Realmente estou chocada com tantas consultoras falando somente em itens que te deixam elegante oi deselegante! 🙁

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Priscila Citera

Apaixonada por pessoas e por moda, resolvi unir a Psicologia e 12 anos de experiência em recursos humanos com a formação em Consultoria de Estilo pela Oficina de Estilo, e desde 2014 ajudo mulheres e homens desse mundão todo a transformarem personalidade em looks e roupas em representação da personalidade, sem que eles precisem gastar muito!