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A influência da política na moda

Quem me segue lá no instagram sabe que eu sempre me posiciono politicamente, por que sei que tudo é político (especialmente para as mulheres) e já falei aqui que moda também é sobre política, mas hoje eu vim falar sobre um pouco da história da moda, pra falar sobre a influência da política na moda.

Eu sempre me surpreendo (negativamente) quando as pessoas acham ruim que eu fale sobre política sendo consultora de estilo. Eu acho super óbvio falar disso, já política vem de polis – aquilo que é da vida pública e que interesse e toca a todos, e que moda é uma ferramenta social, que influencia e é influenciada pelo que acontece no mundo.

E tem alguma coisa que influencie mais a nossa vida que o poder da política? Então, fica aqui pra entender a influência da política na moda e o que a gente pode ganhar votando bem!

A influência da política na moda

Roupa é um ato político e refletem os valores de uma época, de uma sociedade e de uma cultura específicas, e a gente poder escolher usar algo que nos representa ou algo que a gente gosta ao invés de usar o que é imposto (como aconteceu por anos com as mulheres – e ainda acontece!) é um direito adquirido depois de muita luta!

Eu vou contar a seguir alguns itens de moda que a gente usa (ou usou) por conta da influência da sociedade – que é influenciada pela política e influenciada por ela. Nesse texto aqui eu mostrei alguns dos muitos momentos em que a moda foi usada para demonstrar status, poder e diferenciação social e vale a pena ler pra complementar a leitura e o entendimento do tema.

Vou começar com um dos maiores símbolos do poder do homem sobre a mulher que ainda vemos na moda é a ausência de bolso nas roupas femininas! Aposto que se você é mulher, já sentiu falta de bolso num vestido, numa saia, e até mesmo nas calças (que muitas vezes têm bolsos “falsos”) e não entende por que as roupas femininas não têm bolsos! Eu te conto:

Porque as roupas femininas não tem bolsos?

As roupas femininas não tem bolsos (ou têm bolsos que não cabem quase nada!) por que por muito tempo os homens carregavam todo o dinheiro do casal, e a mulher tinha que pedir a ele, se quisesse ou precisasse – do dinheiro ou qualquer outro pertence, que também estava com ele.

É importante dizer que as roupas deixaram de ser apenas funcionais depois da Segunda Guerra, quando as mulheres usaram as roupas dos homens nas fábricas e depois lutaram para continuar usando calças, por exemplo.

A moda feminina evoluiu por que o feminismo existiu e continua existindo! E sabe o que garante liberdade para lutar pelos direitos das mulheres? A política e votar em políticos que respeitem as mulheres!

O espartilho

Não tem como falar de história da moda, roupa feminina e poder público sem falar do espartilho. A peça, feita de ossos, marfim ou madeiras e apertavam os corpos femininos até o começo do século 19.

Outra característica do espartilho que é importante citar quando o assunto é a influência da política na moda é que eles precisavam ser amarrados por outras pessoas, já que fechavam nas costas e precisavam estar bem apertados.

Como se não bastasse o espartilho, os vestidos dessa época também eram volumosos, pesados e as mulheres precisavam de ajuda para vestir e tirar todas as roupas por conta disso. Ou seja: nenhuma independência, nem pra se vestir ou se despir a hora que quisesse ou precisasse. Entende?

Também foi nessa época que as mulheres usavam as crinolinas (armações pesadas feitas de crina de cavalo ou metal), que também limitavam os movimentos das mulheres e sua liberdade – já que elas precisavam de ajuda até mesmo para irem ao banheiro.

A saia lápis

A saia lápis é um dos itens do vestuário feminino mais sexualizado, por causa do seu modelo bem ajustado no corpo. Apesar disso, é super aceita no ambiente corporativo, e é conhecida como “saia secretária” justamente por isso.

Nós conseguimos o direito de entrar no mercado de trabalho na década de 50, e até hoje a saia lápis faz parte do dress code mais formal e está no guarda-roupas da maioria das mulheres que trabalha em “escritório”.

A saia lápis é uma das peças mais desconfortáveis do guarda-roupas feminino, por causa do modelo ajustado e mais comprido, que faz com que os movimentos sejam limitados. Pesquisadores de moda indicam que ela foi feita assim estrategicamente, para que as mulheres não conseguissem andar rápido e ficassem sempre pra trás dos homens.

A calça comprida

Como eu falei, a calça comprida foi usada pela primeira vez pelas mulheres na época da segunda Guerra, e Coco Chanel também desenvolveu um modelo mais esportivo e que limitava menos os movimentos femininos nessa época. Também na segunda Guerra, Coco Chanel foi descrita como informante da alta inteligência nazista (segundo o livro “Dormindo com o inimigo” de Hal Vaighan.

Até hoje, muitas calças femininas não tem bolsos, e a explicação dos estilistas é sobre o volume extra na silhueta, por que a beleza está na magreza, né?

Lady like e a cintura marcada

Logo depois da segunda guerra, as mulheres voltaram a marcar mais a silhueta feminina, tentando recuperar a feminilidade perdida durante a guerra.

As peças também não eram muito confortáveis, mas já existiam mais opções e mais movimento – e consequentemente, mais independência. Mas também foi uma forma de mandar as mulheres pra dentro de casa de novo, já que elas não eram mais necessárias com a volta dos homens da guerra. Mulher parecia um enfeite, sabe?

Minissaia

A minissaia é um dos símbolos da liberdade feminina, e foi criada e difundida ela estilista inglesa Mary Quant, nos anos 60.

Ícone da juventude londrina, o item foi um ato de libertação e rebeldia contra uma geração de adultos conservadores. Tendo acompanhado a chegada do homem à Lua e a dos anticoncepcionais nas farmácias, a peça cobriu distâncias sociais e culturais infinitamente maiores do que seu comprimento. E, se continua nas passarelas hoje, é porque ainda tem muito a dizer.

A plaquinha citando Dior foi por causa da imagem dele ajoelhado medindo a distância da barra das saias do chão – já que ele era entusiasta das saias midi e longas.

A moda como ferramenta de protesto: Zuzu Angel

A Zuzu Angel foi uma estilista brasileira tão importante (a primeira a expor produtos nacionais fora do Brasil), que merecia um texto só sobre ela. Mas vou começar com essa introdução aqui.

O trabalho de Zuzu Angel misturava conceitos de alta costura e prêt-a-porter (que eu expliquei a diferença nesse texto aqui), e organizou um desfile em Nova York em 1971 para denunciar a prisão, tortura e morte do seu filho pelo governo militar Brasileiro (ditadura).

Depois do desfile, ela conseguiu que o caso tivesse repercussão na mídia, e viu suas peças, que tinham símbolos guerreiros substituindo flores e pássaros sendo usadas como denúncia internacional – já que a mídia brasileira não podia falar dos casos da ditadura, por conta da censura.

Infelizmente o corpo do seu filho Sturt Angel Jones nunca foi encontrado (como o de milhares de pessoas mortas na ditadura), e esse sentimento de tristeza, revolta e luto influenciaram pra sempre na criação das suas roupas, que tinham tanques de guerra, canhões e soldados bordados e estampados – além de anjos e símbolos de luto e dor.

Também foi nos anos 70 que as pessoas usaram a moda com mais liberdade para expressar sua personalidade e rebeldia contra aquela estética toda certinha e cheia de regras.

A influência da pandemia do coronavírus na moda

Assim que começou a quarentena por conta da pandemia do coronavírus eu falei nesse texto aqui sobre como isso ia influenciar o comportamento de consumo na moda, e depois da fase do pijama no home office, tivemos um boom de brilhos, volumes e cores, a volta de tendências dos anos 80 / 90 – e esse movimento foi chamado de escapismo, que é uma forma de fazer a gente esquecer os tempos ruins que o mundo todo passou.

Os looks da Kamala Harris durante as eleições

Também foi durante a pandemia que aconteceram as eleições para presidente dos EUA, e os looks da Kamala Harris também mostraram a influência da política na moda (e vice-versa): Usou jeans e all star para parecer mais próxima do povo e lembrar uma época de transformações (lá nos anos 70), e depois usou o terno branco das sufragistas, pra falar da importância da luta feminina para a gente ter direito ao voto – e muitos outros direitos!

A moda não é influenciada só pela política

É claro que a política não é a única coisa que influencia a moda. Mas, a política é uma das formas de controlar as coisas e demonstrar poder, e o controle e o poder influenciam tudo.

Domingo tem eleição e ontem eu fiz esse post aqui lá no instagram, falando sobre a falta de liberdade de usar roupas vermelhas por que o outro lado (o bolsonarismo) está no poder e quer deixar a esquerda com medo. Moda é expressão, e se a gente não pode se expressar, estamos numa ditadura.

Como eu falei no post, é triste, como militante, feminista e consultora de estilo, me curvar às pressões deles e deixar de usar o que eu queria usar no domingo, expressando a minha decisão e a minha vontade de mudança. Mas, assim como muitas mulheres fizeram ao longo da história, eu vou dar esse passo pra trás, pra que eu ainda possa dar outros passos pra frente! E é assim que a gente vai mudando a influência da política na moda!

O que Lula e Bolsonaro fizeram pela indústria da moda?

Domingo (02 de outubro de 2022) tem eleição para presidente e eu trouxe aqui alguns dados sobre o que o Lula e o Bolsonaro fizeram pelos trabalhadores da indústria da moda, pra mostrar o quanto é importante a gente saber em quem votar e o que os candidatos podem fazer de positivo!

  • A indústria da moda emprega mais de 1 milhão e meio de trabalhadores diretamente e mais de 8 milhões de pessoas de forma direta (de acordo com os dados de 2020 da Associação Brasileira da Indústria Têxtil), sendo 75% mulheres! Ter mão de obra barata e análoga do trabalho escravo dá lucro para essas empresas e tira a dignidade e os direitos dos trabalhadores.
  • Em 1995, no governo do Fernando Henrique Cardoso, o Ministério do Trabalho começou a fiscalizar essas empresas, mas foi só no governo do Lula que a fiscalização aumentou e ficou mais efetiva.
  • Durante o governo do FHC, mais de 5 mil pessoas foram resgatadas do trabalho análogo ao trabalho escravo, enquanto durante o governo do Lula quase 33 mil pessoas foram resgatadas do trabalho escravo (6x mais, no mesmo período de governo).
  • Lula também lançou o segundo plano nacional de erradicação do trabalho escravo, com estratégia para resgatar pessoas desse cenário e reinserir essas pessoas no mercado de trabalho.
  • Bolsonaro, em 2019, disse que a fiscalização trabalhista era exagerada e além de tirar a autonomia do órgão, reduziu pela metade a verba para manter a fiscalização em 2021.
  • Esse ano, Bolsonaro não assinou a carta de compromisso contra a escravidão, e Lula assinou.

Meu voto é sempre contra o Bolsonaro, e dessa vez não vai ser diferente!

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Priscila Citera

Apaixonada por pessoas e por moda, resolvi unir a Psicologia e 12 anos de experiência em recursos humanos com a formação em Consultoria de Estilo pela Oficina de Estilo, e desde 2014 ajudo mulheres e homens desse mundão todo a transformarem personalidade em looks e roupas em representação da personalidade, sem que eles precisem gastar muito!