Hoje, dia 15 de março, é o Dia Internacional do Consumidor, e por mais que essa data tenha nascido para falar dos nossos direitos, é importante falar também sobre a forma como a gente consome e se relaciona com o comércio, e por isso trouxe 5 dicas para te ajudar a ser um consumidor consciente.
Eu sou consultora de estilo desde 2014 e o consumo consciente é um dos pilares do meu trabalho, e além de ensinar como ser um consumidor consciente para os meus clientes, fazer esses textos aqui no site e os posts no meu instagram é uma forma de eu “espalhar a palavra” para mais gente!
Consumismo x consumo
Eu estou sempre falando sobre consumo consciente aqui e lá no meu instagram, e num dos meus textos sobre isso eu escrevi que “consumo consciente é comprar só o que precisa“, e explico a diferença entre precisar e querer, e entender isso faz a gente ser um consumidor consciente.
Mas óbvio que ser um consumidor consciente não é só isso e como o meu trabalho está sempre relacionado ao consumismo, eu sempre falo que o problema da moda não está no consumo e sim no consumismo.
Explico: querer ter vários looks diferentes pode te fazer sentir que precisa de várias peças de roupas ou achar que “não tem nada pra vestir”, quando na verdade, quando a gente entende o impacto que a nossa forma de consumir impacta a saúde do mundo, da nossa saúde financeira e mental, a gente passa a consumir de forma diferente – e isso é parte do que eu entrego na consultoria de estilo, que não é sobre roupas!
Como ser um consumidor consciente?
Nesse texto que eu citei, eu falo que comprar em loja de departamentos não te faz uma consumidora ruim, assim como comprar em brechó não transforma ninguém em um consumidor consciente se a pessoa toda hora comprar alguma coisa diferente “só porque tá baratinho”.
Eu já falei aqui que levo muitas clientes em lojas de departamento na etapa de compras / personal shopper, porque nem todo mundo tem dinheiro pra comprar em lojas locais e autorais, e essas peças também não vestem todos os corpos, especialmente as mulheres que precisam comprar roupas em tamanhos plus size ou quem usa roupas PP e 34 como aconteceu comigo a maior parte da minha vida, e com muitas das minhas clientes.
Então, eu vou listar cinco dicas sobre como ser um consumidor consciente, mas já te livrar da culpa caso você não consiga fazer todas essas coisas. Se cada um fizer o que pode, a gente já consegue mudar muita coisa no mundo!
1- Você realmente precisa fazer essa compra?
Uma coisa que parece óbvia mas você precisa entender se quiser se tornar um consumidor consciente é que precisar e querer são coisas diferentes. Às vezes, a gente tem o impulso de comprar “só mais uma blusinha” quando aquela marca que você gosta lança uma coleção nova, ou quando uma influencer aparece nas redes sociais mostrando alguma tendência mesmo sem precisar. Essa “necessidade” aqui é só um desejo!
É óbvio que a gente sempre vai sentir vontade de comprar coisas que a gente não precisa, mas se você deixar de comprar 1 a cada 5 itens que você quer comprar (e percebe que não precisa quando para pra avaliar), você já está a um passo de ser um consumidor mais consciente.
Num outro texto aqui, eu falei que “a criatividade vai te livrar do consumismo”, porque quando você descobre / aprende novas formas de usar as peças que já tem em casa, você percebe que tem roupas o suficiente e que pode ficar por mais algum tempo sem comprar roupas novas. A novidade que você “precisa” está ali, sabe?
Eu vejo isso acontecer desde 2014 com as minhas clientes, que passam a economizar com roupas depois da consultoria de estilo porque ganham mais repertório de moda, estilo, cor e consumo consciente também!
Um dos meus serviços que pode te ajudar nisso é a montagem de looks, que é pra você aprender a versatilizar mais as suas roupas e ter mais repertório com as roupas que você já tem no guarda-roupas.
2- Pense em outras formas de consumir
A indústria da moda é uma das mais poluentes do mundo, e se você comprar peças em brechó, por exemplo, vai comprar uma peça que já foi produzida, ao invés de pedir a essa indústria que gere novas peças o tempo inteiro.
Eu sou consumidora, entusiasta e apoiadora de brechós, e sempre levo as minhas clientes para comprar peças usadas para aumentar o movimento. Quando eu vou em outras cidades, eu também aproveito para conhecer os brechós que eu sigo no instagram, como nesse dia, que eu fui no Único Brechó, que é o maior brechò de Campinas.
Eu tenho um texto aqui sobre “como comprar em brechó” e nesse outro texto eu falo sobre o Repassa, que é maior brechó online do Brasil, onde eu seleciono peças para as minhas clientes e onde compro pra mim também!
Nessa foto, tem a minha “sacola do bem”, com peças que eu mandei pro Repassa pra vender, e que vai ter parte do valor revertido para ajudar às ONGs que eles apoiam.
3- Busque conhecer a procedência das peças
Não tem como ser um consumidor consciente sem conhecer a procedência do que você compra. Vale olhar na etiqueta interna das peças, no site e nas redes sociais da marca / empresa para saber quais são os seus valores e como ela se comporta em relação ao meio ambiente, logística e descarte, por exemplo.
Já falei aqui várias vezes sobre o caso do acidente no edifício Rana Plaza, em Bangladesh, que matou mais de 1.200 trabalhadores e feriu outros 2.500 em 2013, e que motivou a criação do Fashion Revolution, para garantir melhores condições de trabalho na indústria da moda. Apesar disso, Bangladesh continua sendo um país com mão de obra e matéria prima muito baratas, de onde sai boa parte das roupas que chegam em lojas populares como a Shein, por exemplo.
De novo: muita gente não pode comprar em marcas locais e apesar de a Shein estar sempre relacionada com grandes problemas (para o meio ambiente e para as pessoas), ela continua sendo uma boa opção para quem veste tamanhos plus size e não tem opções de marcas com preços baixos e itens de moda.
Eu já falei sobre o que eu penso sobre comprar na Shein nesse texto aqui, mas vale a pena lembrar da diferença entre precisar e querer na hora de comprar nessas marcas. Tudo bem comprar uma blusinha que você AMOU de vez em quando, ou um vestido de festa para uma situação especial, mas atualizar o site e encher o carrinho todo dia, e receber encomenda toda semana (como essas blogueiras de moda fazem “unbox”) não é ser um consumidor consciente.
4- Use MUITO tudo que você tem
Sabe aquele ditado que diz que a cidade mais limpa é a que menos se suja? Com o consumo de roupas é a mesma coisa: Quando você compra uma coisa que é a sua cara e funciona no seu corpo, na sua rotina e no seu estilo pessoal, essa peça vai render vários looks e você vai conseguir se ver usando essa peça em situações e lugares diferentes.
Entender sobre tecido também ajuda muito, porque tem tecido biodegradável, tecido que passa por uma produção mais poluente ou é mais sustentável, que dura mais ou que dura menos, e por isso eu estou sempre falando sobre tecidos aqui e no instagram – e também ensino para cada cliente as melhores opções de tecido para as suas demandas (como os tecidos que não amarrotam, ou são mais fresquinhos, por exemplo)!
Também vale a pena reformar as suas peças, fazendo pequenas alterações que vão fazer a peça ter uma vida mais longa. De vez em quando eu transformo calças mais antigas em shorts, por exemplo, e também dou sugestões sobre as peças paradas no guarda-roupas das minhas clientes. Uma dessas reformas eu mostrei lá no meu instagram:
Você tem um monte de roupa bonita parada no guarda-roupas? Esse texto pode te ajudar a entender porque isso acontece, e te ajudar a decidir se vai manter ela no guarda-roupas, transformar com uma costureira, doar ou vender num brechó!
5- Pense na logística da compra
Quando você compra 5 blusinhas na Shein numa mesma compra, você vai receber uma embalagem com 5 blusinhas dentro, cada uma num saquinho diferente. O plástico demora até 450 anos para se decompor e é uma das causas de a indústria da moda ser uma das mais poluentes do mundo.
Ao invés disso, você pode escolher por comprar em uma marca que não embala as peças individualmente, uma marca que usa embalagens de papel, ou marcas que compensem a produção de gás carbônico, porque é assim que um consumidor consciente pensa.
Você também se torna um consumidor consciente quando escolhe uma opção de entrega (nas compras online) mais sustentáveis. Sabe aquela diferença de valor na hora do frete? Você paga mais caro para uma entrega mais rápida porque uma pessoa vai fazer uma rota específica num prazo menor pra te entregar aquela compra dentro do prazo.
Quando você opta por receber essa compra num prazo maior, o frete fica mais barato porque é dividido entre várias pessoas na mesma região, e a entrega é feita de uma vez só, pra vários clientes que moram próximo, e assim, poluindo menos o ambiente. Sabia dessa? Veja esse exemplo:
Algumas marcas também se responsabilizam pelo descarte das peças que foram produzidas por elas, ou fazem ações para encaminhar peças para o local correto, como eu contei nesse texto aqui, sobre a ação das lojas de departamento como a Renner e a C&A – que você pode participar levando as peças que você não usa mais, para serem descartadas corretamente.
Espero que essas dicas te ajudem a se tornar um consumidor consciente da forma que você puder ser!