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Fast fashion: Renner e C&A em caminhos opostos?

Quem me acompanha lá no instagram sabe que eu uso roupa de fast fashion nos meus looks e levo as minhas clientes para a etapa de compras também, por que ainda é uma opção mais barata para ter acesso às tendências, mas eu sempre avalio várias coisas além do preço da peça.

Essa semana duas notícias sobre a Renner e a C&A me fez pensar na possibilidade de elas estarem caminhando para lados opostos, e eu vim escrever aqui enquanto penso sobre o assunto e chego a uma conclusão.

Fast fashion: Renner e C&A em caminhos opostos?

A princípio parece mesmo que duas das maiores lojas de departamento fast fashion do Brasil estão caminhando pra lados opostos.  Pra quem não sabe do que estou falando, aconteceu o seguinte:

  • C&A anuncia que vai lançar pequenas coleções em até 24 horas
  • Renner compra o Repassa (plataforma de repasse de roupas usadas)

Enquanto a C&A está produzindo mais e acelerando ainda mais o consumo de tendências, a Renner está investindo no que já existe e não serve mais para alguém, mas que ainda pode funcionar pra outra pessoa – que vai pagar um preço bem mais baixo pela peça, pelo “simples” fato de ela já ser usada. Mas, será que é isso mesmo? Vamos ver!

C&A vai criar coleções em até 24 horas

Quando eu vi a matéria da InfoMoney com o Paulo Correia (CEO da marca) falando que ia lançar pequenas coleções criadas em até 24 horas eu fiquei realmente assustada.

Segundo Paulo, essa estratégia é pautada nos resultados durante a pandemia: As vendas online cresceram cerca de 180% enquanto as vendas nas lojas físicas caíram quase 20%, e ele acredita que além de aumentar as vendas, essa estratégia também vai diminuir os desperdícios, já que só vai produzir o que o público demonstrar interesse nas redes sociais.

Em 2019, a C&A já tinha começado um projeto parecido, mas com um prazo de 45 dias. Esse ano, a marca percebeu que era possível acelerar o processo e oferecer uma peça em tempo recorde, quando conseguia colocar as peças usada pela vencedora do programa Big Brother Brasil, Juliette Freire, nas lojas em 24 horas.

O programa funcionou pra gerar desejo, e a marca vendia para satisfazer aquela “necessidade”. E a nova estratégia da marca vai ser exatamente assim.

Alerta tendências: Fast fashion ainda mais rápido

Chamada de “alerta tendências”, essa nova estratégia da marca vai contar com “120 profissionais das áreas de estilo, logística e também os chamados ‘buscadores de tendência’.

Com as informações da internet em mãos, os estilistas precisam criar uma peça que deverá estar disponível para pré-venda em 24 horas no site da companhia – contando fotos com modelos e todas as especificações. As entregas são realizadas em até 15 dias. A princípio, essas coleções terão 100 unidades fabricadas por peça.”

Eu não sei se vocês sabem como uma coleção é feita, mas quando eu trabalhei no RH e no marketing de marcas aqui no Rio eu vi como o processo é intenso e cansativo, e a gente estava numa situação muito diferente, com coleções feitas com antecedência (geralmente de 6 meses a um ano de antecedência) e com uma pressão considerada “normal” para o comércio, que produz pensando na venda e no lucro.

Eu não consigo não questionar algumas coisas, e trouxe aqui pra vocês pensarem também:

  • alguém pensou no quanto isso vai ser prejudicial para os funcionários da marca, para as pessoas conseguirem produzir essas peças com tanta rapidez?
  • não consigo entender como isso pode sustentável (no sentido de gerar menos desperdício), se a marca está gerando mais produtos e aumentando a produção.
  • a empresa não está alinhando as estratégias internas? não sabem que o termo greenwashing é usado para falar de marcas que usam estratégias para parecerem mais sustentáveis (como as suas campanhas sociais e o uso de algodão orgânico nas peças, por exemplo), enquanto aumenta a produção, sabendo do impacto ambiental e social que isso vai causar?
  • porque as pessoas precisam comprar tanta roupa num momento onde não existe vida social por causa da pandemia, trabalho remoto e tanta insegurança financeira?
  • o acabamento das peças de fast fashion vai piorar (porque as peças vão ser feitas com menos tempo, e consequentemente menos cuidado) e vai ficar mais difícil achar uma peça que valha a pena.

Para fins de comparação, entre o desenvolvimento da coleção e a peça ficar disponível para a venda no site da Shein o processo dura 3 dias!! E eu acho o processo da Shein tão problemático que tem um texto inteiro aqui no site falando sobre isso, e você pode ler clicando aqui.

Renner compra o Repassa

A notícia que a Renner comprou o Repassa me causou sentimentos ambíguos, porque o Repassa é um dos brechós que eu mais gosto, tanto para comprar as minhas roupas quanto para indicar para as clientes na etapa de compras online, e muita coisa pode mudar depois dessa compra.

“Esta aquisição é o primeiro movimento inorgânico para a consolidação do nosso ecossistema de moda e lifestyle. Representa mais um passo desta jornada de evolução, dentre outras relevantes etapas que ainda temos pela frente. Além disso, tem grande aderência aos nossos pilares de atuação, focados na digitalização, na inovação e na sustentabilidade”, comenta o diretor presidente da Lojas Renner, Fabio Faccio.

A Renner tem mostrado mais engajamento sustentável, lançando coleções de jeans reciclado, algodão orgânico e collabs com marcas como a Insecta Shoes, que faz sapatos veganos (e que tem ações sociais incríveis).

Assim como a C&A, a Renner também tem um projeto de logística reversa, que funciona pra você deixar uma peça que não está usando mais para que a marca envie para a reciclagem ou para um local que faça o descarte de forma correta. Eu já falei desse projeto aqui, que inclui outras grandes lojas de fast fashion, como a Zara e a H&M.

Também vale lembrar que a Renner e outras marcas de moda nacionais já haviam firmado parceria com o Repassa promovendo a ação “Sacola do Bem”, onde você seleciona peças sem uso e envia para a empresa, e em troca, poderia comprar itens disponíveis no site, resgatar o valor das peças vendidas ou doar para ONGs cadastradas no projeto.

Brechó tá na moda

Mas, apesar de toda essa pegada sustentável, parece óbvio que a Renner não esteja pensando só no planeta, né? O mercado de segunda mão está cada vez mais “na moda”, e outras marcas, como o grupo Arezzo&Co (que comprou a TROC, que também é um grande brechó online) também estão aproveitando essa oportunidade para vender o que já está criado e produzido.

De acordo com uma pesquisa compartilhada pela Thredup, o mercado de peças usadas deve crescer em torno de 27% e a revenda online deve aumentar em mais de 400% nos próximos cinco anos.

Conclusão

A fast fashion sempre vai ser um problema, tanto no quesito ambiental quanto em questão de leis trabalhistas, mas acredito que quando o assunto é sustentabilidade, a Renner está sim trilhando caminhos mais interessantes do que a C&A.

Toda empresa visa o lucro e no meu ver, a Renner encontrou uma maneira de vender mais e produzir menos (ou continuar produzindo muito e vendendo mais, porque depois as pessoas vão comprar as mesmas peças de novo pelo Repassa – inclusive as peças produzidas pela C&A).

Como consumidora e consultora de estilo, vou continuar de olho pra trazer as novidades aqui pra vocês.

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Priscila Citera

Apaixonada por pessoas e por moda, resolvi unir a Psicologia e 12 anos de experiência em recursos humanos com a formação em Consultoria de Estilo pela Oficina de Estilo, e desde 2014 ajudo mulheres e homens desse mundão todo a transformarem personalidade em looks e roupas em representação da personalidade, sem que eles precisem gastar muito!